Tração & distração

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Um país que tem 270 milhões de mobiles – smartphones, tablets, notebooks e computadores pessoais – para 212 milhões de habitantes, é um país muito diferente do que se poderia imaginar há cinquenta anos. As redes sociais estão presentes em todos os espaços e em todos os segmentos. Há catadores de resíduos sólidos servindo-se de celular, assim como alguns mendigos já o possuem.

Demonizar a internet não é solução. As técnicas servem ao ser humano. Este sim, é finalidade. Tudo o mais é meio, é instrumento. Uso saudável ou nocivo, depende de cada um.

A pandemia forçou as pessoas a se evitarem. O pânico do contágio funcionou nos primeiros meses de 2020, até que uma espécie de cansaço geral decretasse o fim do confinamento.

No período agudo, não fossem as possibilidades abertas pela comunicação virtual e tudo teria sido muito mais angustiante. Há inúmeras vantagens nas novas tecnologias. E o livro “Indistraível”, do israelense Nir Eyal, é uma interessante reflexão a respeito do bom uso da internet.

Para Eyal, distração é exatamente o contrário de tração. Tração é aquilo que leva para algum lugar, para a intenção, para mais perto dos valores. Distração é aquilo que o afasta de suas finalidades. Tudo na vida ou é tração, ou é distração. Depende da escolha que fazemos.

O escritor e engenheiro Nir Eyal fornece uma explicação bem singela e convincente: quando se inventa o navio, inventa-se também o naufrágio. É aquela velha estória: uma faca serve para descascar laranja, mas também para matar.

A alternativa não é deixar as mídias virtuais e obrigar as crianças a deixarem os seus celulares em desuso. Nem é saudável aguardar que o governo regule o uso ou o torne oneroso, mediante a criação de mais tributos. Pense-se naquilo que a internet propicia: a conversa com pessoas distanciadas em partes antípodas do planeta. Acompanhar lições ministradas pelos maiores pensadores do universo. Acesso a museus, bibliotecas, centros culturais e a leitura livre de milhões – sim, milhões! – de textos interessantes.

A disciplina deve provir de esclarecimento, de informação e de opção pessoal. Somos ou não dotados de livre arbítrio e de discernimento? Autocontrole deveria ser disciplina obrigatória desde o ensino fundamental. Evitaria muitos problemas para quem se propõe a aprimorar o convívio entre as pessoas.

José Renato Nalini

Reitor da Uniregistral e presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

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