‘Todos os coronavírus podem ser transmitidos de pessoa a pessoa’

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Mayara Nascimento

Em menos de um mês o coronavírus se tornou preocupação em nível mundial. Apenas na China, 81 pessoas morreram neste ano e outras 2.744 foram contaminadas até domingo. As vítimas já se espalham pelo mundo e há registros no Japão, França, Coreia do Sul, Singapura, Vietnã, Arábia Saudita, Taiwan, Nepal, Tailândia, Austrália e Malásia. Os Estados Unidos confirmaram cinco casos da infecção até domingo (26).

Muitos estão com sintomas após terem viajado a Wuhan, cidade chinesa que é o epicentro das contaminações por coronavírus. Em Niterói, no Rio de Janeiro, um caso suspeito foi descartado pelo Ministério da Saúde por não se enquadrar com os critérios adotados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Secretaria da Saúde de São Paulo anunciou um plano para o monitoramento e resposta de casos suspeitos. A mobilização vai englobar os principais hospitais de referência, como Instituto de Infectologia Emílio Ribas e Hospital das Clínicas, e profissionais estão sendo treinados para fazer a detecção e notificação de possíveis casos da doença.

Na sexta-feira (24), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma reunião com as companhias aéreas, empresas instaladas no GRU Airport – Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, a fim de sensibilizar a comunidade aeroportuária para identificação e comunicação de possíveis casos suspeitos do novo coronavírus (nCoV). O maior terminal da América Latina é a principal porta de entrada no país.

Para entender melhor o assunto e tirar as principais dúvidas da população, a Folha Metropolitana conversou com o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clovis Arns da Cunha. Participaram também, o vice-presidente do órgão, Alberto Chebabo, o assessor da diretoria, Leonardo Weissmann, e a coordenadora do Comitê de Medicina de Viagem, Tânia Chaves.

Abaixo os principais pontos desta entrevista que pode ser conferida na íntegra no site www.fmetropolitana.com.br.

Folha Metropolitana – O que é Coronavírus?

Coronavírus (CoV) é uma grande família de vírus, conhecidos desde meados da década de 1960, que pode causar um resfriado comum ou síndromes respiratórias graves como a síndrome respiratória aguda grave que ficou conhecida pela sigla SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome, (SARS-CoV) e a síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é MERS, do inglês Middle East Respiratory Syndrome (MERS-CoV). Esses vírus receberam esse nome devido às espículas na sua superfície que lembram uma coroa. Uma nova variante do vírus foi identificada recentemente, após a notificação de casos de pneumonia de causa desconhecida entre dezembro/2019 e janeiro/2020, diagnosticados inicialmente na cidade chinesa de Wuhan, capital da província de Hubei. Essa nova variante não havia sido identificada previamente em humanos e foi denominada 2019-nCoV. Centenas de casos já foram detectadas em outras cidades da China, além de Tailândia, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos da América.

Qual a origem deste surto?

Acredita-se que a fonte primária do vírus seja em um mercado de frutos do mar e animais vivos em Wuhan.

Há outros coronavírus com transmissão de animais para humanos?

Investigações detalhadas descobriram que o SARS-CoV foi transmitido de gatos selvagens para humanos na China, em 2002, e o MERS-CoV de dromedários para humanos na Arábia Saudita, em 2012. Vários coronavírus conhecidos estão circulando em animais que ainda não infectaram humanos.

A transmissão acontece entre humanos?

Sim. Todos os coronavírus podem ser transmitidos de pessoa a pessoa. Na maior parte dos casos, a transmissão é limitada e se dá por contato próximo, ou seja, qualquer pessoa que cuidou do paciente, incluindo profissionais de saúde ou membros da família que tenham tido contato físico com o paciente e/ou permanecidos no mesmo local que o doente.

Qual é o tempo de incubação desta nova variante do coronavírus?

Ainda não há uma informação exata. Presume-se que o tempo de exposição ao vírus e o início dos sintomas seja de cerca de duas semanas.

Quais são os sintomas de uma pessoa infectada?

Depende do vírus, mas os sinais comuns incluem sintomas respiratórios, febre, tosse e falta de ar/desconforto respiratório. Em casos mais graves, a infecção pode causar pneumonia, síndrome respiratória aguda grave, insuficiência renal e morte. Idosos e pessoas com problemas de saúde podem apresentar manifestações mais graves.

Qual é a letalidade desta nova variante do vírus?

Não se sabe até o momento. Porém, acredita-se que a letalidade do 2019-nCoV seja inferior a do SARS-CoV e do MERS-CoV.

Existe um tratamento?

Não há tratamento específico. No entanto, muitos dos sintomas podem ser tratados. Além disso, os cuidados de suporte às pessoas infectadas podem ser altamente eficazes.

Existe uma vacina para o novo coronavírus?

Quando uma doença é nova, não há vacina até que uma seja desenvolvida.

Tomei a vacina contra a gripe. Estou protegido?

Não. Esta vacina protege somente contra o vírus influenza.

Como reduzir o risco de infecção?

Evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas; realizar lavagem frequente das mãos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o meio ambiente; evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.

Estão contraindicadas as viagens para a China e para os países com casos importados?

Não. Com base nas informações atualmente disponíveis, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda nenhuma restrição de viagens ou comércio. A OMS corrobora para que as medidas de preparação para emergências de saúde devem ser fortalecidas pelos países em conformidade com o Regulamento Sanitário Internacional (2005).

Temos casos da nova variante do coronavírus no Brasil?

Até o presente momento não há casos suspeitos ou confirmados no país.

Há risco de epidemia global?

Sim. Mas até o momento, a OMS não declarou o surto de 2019-nCOV como uma situação de Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional.

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