‘Temos que fazer campanhas educativas e mostrar a importância da vacinação’

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Mayara Nascimento

A desinformação sobre a vacina tem sido apontada como um dos fatores para a queda da cobertura de alguns imunizantes no Brasil e no mundo, o que trouxe de volta surtos de doenças até então controladas, como sarampo, por exemplo. No ano passado Guarulhos contabilizou 1.031 casos da doença.

Páginas na internet e perfis em redes sociais têm disseminado informações falsas ou imprecisas sobre doenças. A preocupação com o impacto da internet e das redes sociais na divulgação de notícias falsas sobre o assunto fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocar, em outubro do ano passado, gigantes de tecnologia, como o Facebook e o YouTube, para participar de uma reunião com técnicos do órgão para buscar soluções contra a disseminação de fake news sobre o tema.

Uma pesquisa feita pela organização não governamental Avaaz, em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), mostra que a credibilidade das vacinas é menor entre homens e jovens de 16 a 24 anos. O estudo mapeou o impacto das fake news em vacinas e contou com um questionário domiciliar em que o Ibope ouviu 2.002 pessoas entre 19 e 22 de setembro do ano passado, em todas as regiões do país.

Segundo a pesquisa, 54% dos brasileiros consideram as vacinas totalmente seguras, e 31% avaliam que elas são parcialmente seguras. Para 8%, elas são parcialmente inseguras, e 6% responderam que elas são totalmente inseguras. A soma dos três últimos grupos mostra que 45% dos brasileiros têm algum grau de insegurança em relação às vacinas. Um percentual de 2% não respondeu ou não soube opinar.

Segundo o Ministério da Saúde, das oito vacinas obrigatórias para crianças de até um ano, só a BCG, que protege contra tuberculose e é dada após o nascimento, atingiu a meta de 95% em 2018. A cobertura da tríplice viral, contra sarampo, caxumba e rubéola, era total em 2011 e caiu para 91,98%. Segundo a pasta, com campanhas, 2019 superou a meta e 99,4% das crianças de um ano foram vacinadas.

A vacinação é um direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e a falta de proteção põe a vida das crianças em risco. Quando pais não imunizam seus filhos, podem ser multados e até perder a guarda.

Para falar sobre o assunto a Folha Metropolitana conversou com Marcos Cyrillo, graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro (1979). Atualmente Cyrillo é diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, médico e diretor do hospital IGESP, médico da Prefeitura Municipal de São Paulo e médico do Hospital do Servidor Público Municipal.

Abaixo os principais pontos desta entrevista que pode ser conferida na íntegra no site www.fmetropolitana.com.br.

Folha Metropolitana – O que é de fato a vacina?

Marcos Cyrillo – Vacina é uma proteína que você coloca no seu organismo, parecida com algum componente do agente infeccioso. Assim, quando a pessoa tiver contato com esse agente infeccioso, o próprio corpo produz anticorpos contra ele.

Qual é a importância de vacinar bebês?

É muito importante vacinar os bebês porque eles têm doenças próprias da infância, de bactéria, de vírus. Ao mesmo, é possível diminuir a taxa de doenças nos adultos que já foram vacinados ou que tiverem contato com crianças.

Quais são as consequências de não vacinar?

Não se vacinar pode ter muitas consequências daquelas doenças que a pessoa contrair. Cada US$ 1 gasto com vacinação previne de US$ 6 a US$ 20 gastos com doença, então o impacto econômico também é grande.

Há efeitos colaterais?

Toda vacina é uma proteína estranha, então vai ter efeitos colaterais quando injetada nas pessoas. Normalmente dor local, febre e algumas alterações do sistema imunológico, mas esses efeitos colaterais são muito raros e quando comparados aos benefícios da vacina não são tão importantes.

Sarampo, uma doença erradicada, voltou por falta de vacinação. O que se deve fazer agora, para controlar a doença?

O controle do sarampo é feito principalmente com a vacina, isolar os doentes, fazer campanhas de saúde pública, para que a gente diminua a epidemia que estamos vivendo.

Quantas doses devem ser tomadas?

A vacina contra sarampo deve ser tomada aos 12 meses de idade, repetida aos 15 meses e depois podem ser dados reforços. Aos quatro anos de idade, por exemplo, a vacina de varicela pode ser reforçada também.

A Vacina Tetra Viral (MMRV), que previne, além da catapora, o sarampo, a caxumba e a rubéola tem a mesma eficiência que a vacina de sarampo?

As vacinas de varicela, sarampo, por exemplo, são todas boas e têm as mesmas indicações e boa eficiência.

Há outra forma de se prevenir contra o sarampo?

Os adolescentes podem tomar um reforço da tríplice viral, sarampo, caxumba e rubéola, principalmente em época de epidemia. Também é necessário isolar os doentes.

Nos últimos anos, quais outras doenças voltaram por falta de vacinação?

Muitas doenças voltaram, como caxumba, sarampo e hepatite A, por exemplo. Em alguns países houve casos de poliomielite e tuberculose, pois não estamos tomando o cuidado adequado, principalmente vacinando.

Como evitar e controlar os movimentos anti-vacinas?

Sempre tem movimentos para não vacinar, mas o governo dos Estados Unidos, por exemplo, tem aplicado multa para quem não vacinar. Temos que fazer campanhas educativas e mostrar a importância da vacinação.

Há diferença entre as vacinas da saúde pública e da rede privada?

Os SUS e as fornecidas pelas redes particulares são igualmente boas. O que acontece é que às vezes na rede particular você encontra vacinas disponíveis no exterior que não fazem parte do nosso calendário, então não estão na rede pública.

Imagem: Divulgação

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