Sem
perspectiva de recuperar o nível de ocupação do início deste ano antes de 2023,
hotéis aproveitam a reabertura gradual da economia para buscar opções de
receita enquanto as viagens a trabalho e a turismo não dão sinais de
recuperação. Uma das alternativas encontradas por duas redes – a francesa
Accor, dona de marcas como Ibis e Mercure, e a paranaense Bourbon – foi
transformar quartos vazios em escritórios. Com uma remodelação rápida – saem
camas e criados mudos, entram escrivaninhas e cadeiras -, as companhias já
começaram a alugar os espaços por valores mensais a partir de R$ 2 mil.
Estudo da consultoria Hotel Invest mostrou que a
situação é ruim para todo o setor, mas especialmente difícil para os hotéis de médio
e alto padrão voltados para o mercado corporativo. Enquanto os hotéis
econômicos podem chegar a 35% de ocupação média até o fim do ano, os
empreendimentos de maior valor devem ficar próximos à marca de 25%. Ou seja: um
hotel de 300 quartos vai ter, em média, 75 unidades ocupadas, resultando em um
quase inevitável prejuízo.
Em busca de saídas criativas para conter os
efeitos da crise do coronavírus, a Accor – líder no mercado brasileiro –
resolveu agir rápido. Em maio, lançou um produto apelidado de “Room
Office”, ou quarto-escritório. A operação começou pela rede Ibis, em 25
unidades. “Começamos por São Paulo e logo percebemos uma demanda absurda
para replicar em outros Estados”, conta Carlos Bernardo, diretor de hotéis
econômicos e de médio padrão da Accor.
Até o próximo dia 12, de acordo com Bernardo,
mais 43 hotéis pelo País vão começar a operar o modelo. Como os empreendimentos
são independentes, a equipe de administração de cada hotel pode definir o
tamanho do “Room Office” – pode separar uma ala de um andar, ou então
um piso inteiro. O modelo de locação é flexível: “O cliente pode reservar
por dia, por semana ou por mês”, explica o executivo.
Para aluguel mensal, os quartos da Accor saem
entre R$ 2,2 mil e R$ 3,1 mil, dependendo do tamanho. Além do escritório, o
hotel também oferece como cortesia café e lanchinhos, além de servir refeições
pelo serviço de quarto. Cada unidade pode comporta até dois trabalhadores. A
Accor ainda busca formas de reabrir seus hotéis no Brasil. Das 300 unidades da
rede francesa por aqui, mais da metade está de portas fechadas.
Segundo maior hotel da América Latina, o Bourbon
Convention Ibirapuera, em São Paulo, tem 630 unidades e cerca de 70% do
movimento concentrado no turismo de negócios. O hotel é conhecido pela grande
área de eventos, que tem capacidade para acomodar até 1,5 mil pessoas. Depois
de passar mais de dois meses fechada, o Bourbon Ibirapuera reabriu agora – e
também aposta nos “quartos-escritório” para sobreviver.
Segundo Fabiano Machado, diretor geral do
empreendimento, 60 apartamentos estão sendo transformados em escritórios. Cada
unidade tem 28 metros quadrados e pode acomodar até quatro pessoas. Além de
ocupar quartos ociosos, o Bourbon espera que os escritórios também ampliem o
movimento do restaurante do empreendimento, no qual é possível encomendar um
almoço executivo por cerca de R$ 50. Como no Ibis, o cafezinho é cortesia.
Privacidade. Machado diz que o espaço privativo
é o principal diferencial dos hotéis em relação a outras opções de escritórios
temporários. “Além disso, o hotel não exige contrato e nem qualquer
obrigação futura. O cliente pode pagar no cartão de crédito.” Um
quarto-escritório no Bourbon Ibirapuera sai por cerca de R$ 3 mil ao mês. A
empresa deve ampliar a oferta para Curitiba e Campinas (SP).
O empreendedor Rudge Masiero de Aquino, fundador
da incubadora de startups Ideas, aderiu à proposta do Bourbon Ibirapuera logo
nos primeiros dias. Ele usou a possibilidade de montar um escritório novo sem
burocracia para separar uma das cinco empresas de seu portfólio das demais.
“É uma forma de fazer o empreendedor ganhar velocidade, pois os custos da
companhia não ficam mais misturados às das outras (incubadas). É uma forma de
incentivar a busca do break-even (equilíbrio financeiro).”
A empresa de sinalização digital Apps2mart foi a
escolhida para ocupar um “quarto-escritório”. A companhia vende uma
solução que permite que supermercados façam promoções de determinados itens de
seu estoque em telões instalados no ponto de venda. “Em um clique, a
empresa pode mostrar a foto do produto, a descrição e o preço a partir da
informação que consta do inventário”, explica.
Aquino explica que prefere o ambiente do hotel a
um coworking principalmente também para se proteger da concorrência. “No
coworking, além de sua ideia poder ser copiada, existe uma interação entre as
empresas. Isso abre a possibilidade de uma outra startup identificar um bom
funcionário e levá-lo para trabalhar com ela. Você gasta para treinar um
trabalhador e alguém acaba levando a pessoa embora. A gente acaba servindo de
filtro de profissionais de outra empresa.”
O hóspede que chega ao hotel Vivenzo Savassi não
encontra mais o recepcionista face a face. Um tablet, ainda do lado de fora,
permite o check-in a distância. Ao chegar ao balcão, encontra máscaras e pode
higienizar a mão em álcool em gel. As refeições são servidas diretamente nos
quartos, que passa por faxina a cada três dias, com funcionários cobertos dos
pés à cabeça. O Vivenzo Savassi – que fica em um bairro nobre de Belo Horizonte
– é o projeto-piloto de uma startup de hospedagem da capital mineira. A
“prova de fogo” da operação foi manter as portas abertas em meio à
proliferação da covid-19 – preparar o protocolo para seguir em funcionamento
custou R$ 150 mil, segundo a empresa.
De acordo com Frederico Amaral, fundador do
grupo Macna, do qual o hotel Vivenzo faz parte, 2020 vai ser um teste de
sobrevivência para o setor hoteleiro. De março para cá, diz ele, foi impossível
manter as contas no azul – mas, com a recuperação parcial da atividade, o
empreendedor de 48 anos diz esperar fechar junho no “zero a zero”.
Apesar do efeito desolador da pandemia no setor de turismo, Amaral não pretende
tirar o pé do acelerador. “A gente não vai frear nada. Os cinco hotéis que
estão previstos serão abertos. O setor vai ter de se redesenhar – e nós saímos
na frente nesse processo.”
Para enfrentar as redes hoteleiras tradicionais,
a Macna desenvolveu um sistema em que a parte administrativa de todos os hotéis
é gerenciada a partir de uma estrutura central unificada. Não é o que ocorre
nas redes tradicionais, nas quais as unidade costumam ser independentes e
funcionam como uma espécie de franquia. Isso obriga que essas estruturas sejam
replicadas em cada hotel.
Startup hoteleira diz que vai abrir 5
unidades em 2020
O hóspede que chega ao hotel Vivenzo Savassi não
encontra mais o recepcionista face a face. Um tablet, ainda do lado de fora,
permite o check-in a distância. Ao chegar ao balcão, encontra máscaras e pode
higienizar a mão em álcool em gel. As refeições são servidas diretamente nos
quartos, que passa por faxina a cada três dias, com funcionários cobertos dos
pés à cabeça. O Vivenzo Savassi – que fica em um bairro nobre de Belo Horizonte
– é o projeto-piloto de uma startup de hospedagem da capital mineira. A
“prova de fogo” da operação foi manter as portas abertas em meio à
proliferação da covid-19 – preparar o protocolo para seguir em funcionamento
custou R$ 150 mil, segundo a empresa.
De acordo com Frederico Amaral, fundador do
grupo Macna, do qual o hotel Vivenzo faz parte, 2020 vai ser um teste de
sobrevivência para o setor hoteleiro. De março para cá, diz ele, foi impossível
manter as contas no azul – mas, com a recuperação parcial da atividade, o
empreendedor de 48 anos diz esperar fechar junho no “zero a zero”.
Apesar do efeito desolador da pandemia no setor de turismo, Amaral não pretende
tirar o pé do acelerador. “A gente não vai frear nada. Os cinco hotéis que
estão previstos serão abertos. O setor vai ter de se redesenhar – e nós saímos
na frente nesse processo.”
Para enfrentar as redes hoteleiras tradicionais,
a Macna desenvolveu um sistema em que a parte administrativa de todos os hotéis
é gerenciada a partir de uma estrutura central unificada. Não é o que ocorre
nas redes tradicionais, nas quais as unidade costumam ser independentes e
funcionam como uma espécie de franquia. Isso obriga que essas estruturas sejam
replicadas em cada hotel.
Quartos de hotéis viram escritórios em meio à crise
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