Programa da CDHU garante apartamentos seguros a famílias em área de risco de Campinas

Foto: Agência SP
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A distância de pelo menos um quilometro é o que separa uma área de alto risco na Vila Barro Vermelho de uma realidade mais digna e segura. O núcleo irregular, no município de Campinas, é habitado por cerca de 70 famílias, que serão transferidas de moradias precárias para apartamentos salubres e seguros, no Conjunto Habitacional San Martin. A mudança de vida com a conquista da casa própria acontece por meio do programa Recompra de Imóveis, lançado no município em outubro de 2024 pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).

A iniciativa prevê que a CDHU recompre imóveis de mutuários com contratos ativos há pelo menos 18 meses, mesmo que as prestações estejam atrasadas. Os imóveis readquiridos proporcionarão atendimento rápido a famílias em áreas de risco, uma vez que os beneficiários precisarão aguardar apenas os trâmites das negociações para adquirir os imóveis, ao invés da construção de novos empreendimentos.

Nesta nova modalidade de atendimento, pelo menos 20 famílias da Vila Barro Vermelho já superaram o processo de habilitação e podem iniciar a mudança para os apartamentos. A primeira a sair do núcleo rumo ao seu novo lar foi a família da aposentada Nilvana Barbosa, que passou sete de seus 45 anos morando em uma casa precária, de apenas um cômodo, feita de madeira e de chão de terra coberto com lona. “É muito gratificante realizar esse sonho de ter uma casa, de ter uma cama, de deitar e saber que nada vai desabar em cima de mim, de não tossir à noite, de dormir bem, de ter uma transformação”, comemora.

O antigo imóvel de Nilvana ficava ao lado de uma encosta que corria o risco de deslizar. “Não durmo tranquila, não tem como”, diz a aposentada, que também já passou por outras situações perigosas. “Eu estava usando o banheiro, e a telha soltou. Se eu estivesse lá dentro, eu teria me machucado e parado no hospital”, conta. Por causa da precariedade, ela já tentou comprar uma casa, mas, pela realidade financeira, nunca conseguiu. “Já fui em uma construtora e eles falaram que não tinha como fazer aquela compra, eram bem realistas por causa do salário que recebia, mas pela CDHU não paguei entrada nenhuma e estou realizando meu sonho”, conta.

A mudança de Nilvana foi realizada na no dia 13 de junho, mas a entrega das chaves ocorreu uma semana antes, quando ela também conheceu a antiga moradora do apartamento, a assistente social Daniele Diniz, de 40 anos. O encontro entre ambas foi marcado por gratidão. “Morei aqui desde 2018. Essa foi a minha primeira casa própria. Foi muito bom o tempo em que vivi aqui porque minha vida mudou, mas agora estou procurando outro lugar. E é muito bom saber que vai entrar uma outra pessoa aqui, na mesma situação em que eu estava quando vim. É uma casa melhor e, agora, é só prosperidade”, diz Daniele, que está em busca de uma nova casa para comprar junto com Ana Beatriz, sua companheira.

Outra família que também realizou o sonho da casa própria e se mudou para um apartamento do conjunto construído pela CDHU foi a de Nayara Santos de Mendonça. A autônoma, de 31 anos, morava com as filhas, a recém-nascida Isadora, além de Iara e Isabelly, de 8 e 12 anos, respectivamente, em um barraco de madeira, cuja precariedade impactava diretamente na saúde das meninas. “Aqui era muito difícil. As crianças ficavam doente direto, com bronquite e asma. Já ficaram até internadas”, relata.

Além disso, conforme a autônoma, o cotidiano no núcleo era marcado pela presença de animais peçonhentos. “Aqui, também tinha muito bicho. Já peguei dois escorpiões, cobra, carrapato estrela e já vi até mesmo uma capivara”, completa a mãe solo, que agora, no novo imóvel, comemora por não estar mais exposta a riscos. “Vir para cá é maravilhoso. Ter um teto, um lar, eu fico até emocionada. Nunca tive casa própria, é a primeira vez. E é algo que vai ficar para as minhas filhas também, é emocionante”, celebrou ela, ao entrar na nova residência.

Os apartamentos do Conjunto San Martin, entregues pela Companhia em 2003, contam com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e uma área de serviço. Além disso, os condomínios são arborizados e possuem garagem, salão de festas, churrasqueira e alguns equipamentos de lazer, como campo de futebol e playground. Já o bairro é dotado de infraestrutura necessária para o desenvolvimento familiar, com pavimentação, comércios e equipamentos públicos de saúde e de educação próximos, realidade até então não vivenciada pelos moradores do núcleo.

Condições precárias

Além de não estar integrada à malha urbana, a Vila Barro Vermelho oferece diversos riscos aos moradores, principalmente em períodos chuvosos. Isso porque, como o próprio nome sugere, o núcleo não é asfaltado, o que dificulta a circulação quando chove. Além disso, uma parte da área que dá acesso às casas é cortada por um córrego, que liga um lado ao outro com uma ponte precária feita de madeira. Com a chuva, parte da terra é arrastada pelo local. O baixo grau de saneamento básico, a proximidade com a região de mata e a criação de animais como porcos e cavalos em lugares inadequados, próximos às moradias, também são fatores que agravam a condição de habitabilidade na Vila.

Esta situação precária também foi deixada para trás por Isabella Vitória, de 21 anos, e seu marido Marcelo Brás, de 28, pais da pequena Antonella Brás, de um ano e sete meses. A família, que também se mudou recentemente, avalia que, além da segurança, o imóvel proporcionará ainda condições melhores de bem-estar. “O apartamento é bom, traz mais conforto pra gente”, avalia Marcelo, ao lado da esposa, que também aprovou o imóvel. “O condomínio é um lugar bom, todo fechado e muito bem organizado. No apartamento, precisará fazer alguns pequenos reparos, mas está em perfeito estado, bem conservado. Tudo certinho”, completou.

No novo bairro, a família também terá uma organização melhor, já que a localização facilita as tarefas do dia a dia. “Aqui, tem as coisas perto. Já lá no antigo bairro, quando ele ia trabalhar e eu tinha que levar a nenê na creche ou para pegar alguma coisa simples no mercado tinha que ir a pé”, diz a dona de casa.

O apartamento adquirido pelo casal pertencia a Lourdes, de 58 anos. A ajudante geral, que mudou logo depois da entrega feita pela Companhia, relata que o imóvel foi importante para garantir estabilidade à família. “Aqui foi o primeiro lar que eu pude dar para as minhas filhas. Antes disso, não estávamos na nossa casa. Sempre tínhamos que sair porque não era nosso. Fui muito feliz aqui”, relatou.

A ex-proprietária, que casou novamente e está em busca de um novo imóvel para compra, entregou pessoalmente a chave do apartamento para os novos moradores. “Eu fico feliz por eles estarem em um lugar onde não vão ser obrigados a sair. Eu fico feliz de ajudar. Acho que vai ser o cantinho da família, como foi o meu”, disse, ao felicitar os novos moradores.

Recompra de Imóveis: uma oportunidade de recomeço

As mudanças das próximas famílias continuam nas semanas seguintes, e as tramitações para reassentar os moradores estão em andamento.

O programa Recompra de Imóveis foi iniciado de forma piloto em Capivari, ampliando-se na sequência para Campinas. O núcleo Barro Vermelho é o primeiro a ser atendido no município pela iniciativa, que tem a premissa de proporcionar melhores condições de moradias a famílias socialmente vulneráveis ao mesmo tempo em que dá autonomia a mutuários que conseguiram elevar seus patamares socioeconômicos e agora possuem condições de fazer a troca de imóvel.

No programa, os imóveis que melhor atendam às necessidades habitacionais da CDHU terão preferência. O valor de recompra será definido a partir da avaliação de mercado do imóvel, podendo ser de até R$ 200 mil. Além disso, serão levados em conta o valor de referência da dívida a partir do prazo remanescente do contrato e a dedução de débitos contratuais e tributários, como o IPTU. A proposta final deverá ser entre 30% e 60% do valor da avaliação de mercado feita pela CDHU.

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