‘Precisamos de dinheiro, mas se não cumprirmos as ordens de isolamento porque precisamos de dinheiro, será pior’

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Mayara Nascimento

A pandemia de coronavírus tem impactado na vida da população. Diante do medo e da falta de informação, as pessoas deixam de consumir produtos e serviços, e o impacto financeiro é uma reação em cadeia.

Oscilações nos mercados globais, queda das bolsas no mundo inteiro, necessidade de redução de taxa de juros e aportes financeiros pelos bancos centrais e governos, são exemplos do impacto econômico que ainda está longe de acabar.

Para falar sobre o assunto, a Folha Metropolitana conversou com Daniella Rolim, graduada em administração de empresas, pós-graduada em banking e com MBA em gestão de negócios e finanças. Daniella também é educadora financeira formada pela DSOP, planejadora financeira com certificação internacional CFP e diretora comercial da Flap Capital.

Ela foi entrevistada pela reportagem neste mês especial onde o jornal está apresentando as mulheres que têm influenciado de forma positiva e mudado a realidade ao redor.

Abaixo os principais pontos desta entrevista que pode ser conferida na íntegra no site www.fmetropolitana.com.br.

Folha Metropolitana – Qual é o atual panorama da economia?

Daniella Rolim – Nós tivemos uma queda muito forte da bolsa, e uma queda gigantesca das ações. Isso nos mostra que o mercado ainda está muito inseguro. Nós tivermos seis circuit breakers em pouco tempo, é um cenário inédito no mercado e demonstra o quanto as pessoas estão inseguras e quanto o mercado está sofrendo com o coronavírus.

O que são os circuit breakers?

São interrupções na negociação da bolsa. Quando a bolsa cai abaixo de 10%, as negociações são suspensas. Isso significa muitos prejuízos.

Qual setor está sofrendo mais com a crise?

As medidas que estão sendo tomadas de prevenção, como o fechamento de comércios e o isolamento voluntário, estão impactando principalmente as companhias aéreas. Quando há remarcação, eles ainda têm a projeção de continuar com a operação, mas para uma empresa aérea que já está fadada a operar em prejuízo, os cancelamentos fazem com que ela sofra ainda mais.

Existe a possibilidade de companhias aéreas falirem?

Existe uma grande possibilidade de as companhias menores sofrerem mais e serem adquiridas por algumas maiores. Sempre tem alguém que se dá muito mal e tem alguém que se dá muito bem na crise. Existe sim essa possibilidade, ela não é descartada.

Como ficam os pequenos negócios?

Os pequenos empreendedores vão sofrer muito mais. O fato de prorrogar o pagamento dos impostos não alivia uma necessidade de caixa, pois os empresários ainda precisam quitar a folha de pagamento dos funcionários e o aluguel do imóvel comercial, por exemplo, então fica mais difícil. Em alguns setores é possível observar uma queda de aproximadamente 60% no movimento, principalmente na prestação de serviço. Precisamos de dinheiro, só que se não cumprirmos as ordens de isolamento porque precisamos de dinheiro, será pior. A recomendação é ficar em casa.

Muitas pessoas estão estocando suprimentos. O que é certo fazer neste momento?

Estocar não é a melhor alternativa. A escassez do mercado gera inflação. É um cenário inflacionário que só piora. Por exemplo, se álcool gel não para na prateleira, quer dizer que tem muita gente querendo comprar o produto. Com a alta procura e a pouca quantidade de produto, os preços ficam elevados. Todo mundo sofre, mas o pobre sofre mais, pois não consegue se proteger com o preço alto, e todo mundo fica vulnerável.

Qual a previsão financeira para as empresas depois da crise?

Já é possível sentir a queda no faturamento. Depois que a crise passar, acredito que vai haver um endividamento muito grande dos empresários, o que impacta diretamente no consumidor. Uma empresa endividada tem mais despesas, e consequentemente aumenta o preço dos seus produtos e serviços.

Como se adaptar financeiramente?

O bom do brasileiro é que ele é muito criativo. Na última crise que tivemos, foram os pequenos empresários que sustentaram o país, foram os empregos informais. Nas redes sociais é possível encontrar diversas campanhas para comprar de pequenos empresários, priorizar o pequeno comércio, e sempre dar apoio. Estamos tentando nos adaptar da melhor forma e isso pode dar bons resultados após a crise.

É possível tirar algo bom desse momento?

Mesmo quando os casos de coronavírus diminuírem, as pessoas vão se sentir inseguras para viajar para fora do país. Será um bom momento para o turismo no Brasil, incentivando a economia interna. O bom atendimento das companhias aéreas, por exemplo, também faz com que as pessoas se sintam abraçadas. O cliente esquece o que você faz, mas não se esquece de como você faz com que ele se sinta, então o desafio das empresas agora é fazer com que os clientes se sintam bem e acolhidos para quando esse momento de crise passar, ele tenha um cliente fiel.

Quais dicas de finanças pessoais você pode passar para os leitores?

A falta de educação financeira no Brasil vai fazer com que as pessoas sintam mais o impacto econômico, porque elas não tinham o costume de ter uma reserva de emergência, o que corresponde a seis meses do salário poupado. A dica que posso dar para o próximo mês é fazer o possível para gastar menos, comprar o necessário e reduzir gastos supérfluos, consumir com consciência. Quem tiver mais condições financeiras, faça uma doação, pois muitas pessoas vão precisar. A mensagem é cautela para não se endividar. Trancados dentro de casa é o melhor momento para se conhecer e se planejar financeiramente.

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