Em busca de mais qualidade de vida, a advogada Ana
Paula Halla, que morava nos Jardins, em São Paulo, acaba de se mudar para Itu,
município a 101 quilômetros da capital. Com o marido, o filho de 13 anos e o
enteado de 8, ela optou por viver em um condomínio fechado de casas, local
escolhido depois que a pandemia alterou o ritmo da vida e paralisou a
metrópole.
“Eu mudei mesmo, não é só temporada,
não.” Ana Paula é um exemplo de uma migração em busca de chácaras e casas
de aluguel, que pode ser um alento para o mercado imobiliário paralisado pela
pandemia. Com as regras de isolamento social esvaziando hotéis e pousadas, a
saída encontrada por paulistanos para fugir do estresse da crise sanitária está
sendo a locação de imóveis de lazer por temporada para moradia e isolamento em
família em locais como campo e litoral.
A advogada contou que a pandemia foi decisiva na
mudança e destacou que a troca foi facilitada pela oportunidade de trabalhar de
casa. “Ir a São Paulo, só quando for realmente necessário.” Além disso,
pesou o menor custo de vida no interior Itu tem cerca de 160 mil habitantes.
“Meus filhos estudavam em boa escola, mas aqui também vão ter excelente
escola e com ótima redução de custos.”
Com o alastramento da covid-19 para o interior,
o clima fora da capital é de apreensão para quem vive do mercado de imóveis.
“As pessoas estão procurando casas para manter o isolamento mesmo durante
o lazer”, explicou o dirigente do Conselho Regional de Corretores de
Imóveis (Crecisp) em Campinas, José Carlos Sioto, que atende a regional da
entidade responsável pelas cidades de turismo de campo e serra, refúgio
habitual de paulistanos. Em locais que aproveitam a economia do turismo, com
Serra Negra, Águas de Lindoia, Amparo, ou no litoral, como Riviera de São
Lourenço, em Bertioga, locadores contam que, passados cem dias da crise, o
movimento teve aumento, mas ainda está muito abaixo do registrado em outros
períodos.
“A gente nota que as pessoas estão buscando
alternativas para convivência em família, sem grande aglomeração, ocupando
imóveis com mais espaços de lazer, como casas com cozinhas mais amplas”,
disse Sioto. O setor imobiliário e de turismo, diz, enfrenta forte paralisação,
com serviços de hospedagem fechados, mas negócios diretos entre proprietários e
clientes podem fixar turistas.
Segundo Sioto, os negócios na região das cidades
de campo e serra estão com preços bem abaixo dos registrados em períodos gordos
de temporada. “Dependendo do imóvel, uma diária custa em torno de R$ 250,
R$ 300, podendo chegar até a R$ 1 mil.”
Para o corretor Luis Guilherme, que também atua
na região, as diárias estão abaixo do mercado. “Começa a haver procura,
mas ainda é pouco.”
Na praia da Riviera de São Lourenço, em
Bertioga, área de residências de alto padrão, o aluguel mensal de uma casa de
temporada para uma família média pode ficar em até R$ 10 mil. A avaliação é de
Ricardo Portugal, da RDR Portugal Consultoria de Imóveis, que opera com locação
de imóveis da região.
Portugal diz que, após o início da pandemia,
“houve até um aumento, em torno de 15%, nos negócios”. Ele acredita
que essa procura pode ter ocorrido pela necessidade de pessoas da capital
descerem para o litoral em busca do isolamento. “Mas são contratos curtos,
de uma semana ou duas, no máximo de 30 dias.”
Espaço
Com imobiliária na Praia Grande, o
vice-presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), José
Augusto Viana Neto, lembrou que o movimento na direção do interior já era uma
tendência. Ele explicou que, por causa da pandemia, a procura por casas está
ocorrendo até mesmo por moradores de áreas urbanas. “Quem trabalha no
mercado diz que esse movimento de mudanças de apartamentos para casas também
está acontecendo dentro das cidades. As pessoas estão ficando mais com a
família e querem mais espaço.”
Ter espaço e liberdade foi o que motivou a
psicóloga paulistana Denise Cieplinski a ir para a Barra do Sahy, no litoral de
São Paulo. Ela se mudou para a casa dos pais, onde está há mais de 100 dias.
“Aqui é um condomínio com 12 casas, muito tranquilo. Posso andar, tomar
sol, fazer passeios às ilhas.” No feriado de cinco dias, no início de
junho, porém, o ambiente mudou. “Houve uma invasão aqui. Fui às ilhas
passear e havia 120 barcos lá, com gente por todo lado, barracas funcionando.”
Denise não precisou alugar imóvel para sua
“fuga”. A casa estava vazia porque os pais dela, idosos, foram também
isolados em uma fazenda. “Em São Paulo, estava muito confinada. Aqui tenho
mais liberdade.”
Paulistano ‘foge’ para litoral e interior
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