Pantanal tem 7ª alta seguida de queimadas

MT - PANTANAL/INCÊNDIOS/ESPECIAL - GERAL - Fogo queima a vegetação do Pantanal, no Mato Grosso. O drama da maior série de queimadas no Pantanal pode ser visto bem longe das matas e várzeas da região e foi presenciado pelo Estadão. Pela estrada até Poconé, primeiro município da região pantaneira a partir da capital mato-grossense, é possível ver a devastação do fogo que consome a vegetação nativa desde julho. Também fica visível a ausência de ações intensivas do poder público para conter os focos. 12/09/2020 - Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
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O Pantanal – maior planície úmida do mundo, que se estende pelos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, apresentou a sétima alta mensal consecutiva e bateu o recorde do registro histórico para setembro, com 8.106 focos de calor – uma alta de 180% em relação ao mesmo mês do ano anterior, que teve 2.887 focos. Só na quarta-feira os satélites captaram 682 focos ativos. Em apenas nove meses, o bioma também bateu o recorde anual. Cientistas, pesquisadores e empreendedores da região defendem ações conjuntas para tentar conter o problema.

De acordo com dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 1.º de janeiro e 30 de setembro, o total de pontos de fogo no Pantanal – 18.259 – já supera em 82% o total de queimadas observado ao longo de todo o ano passado no bioma (10.025). Trata-se do maior valor observado para o período de um ano desde o início dos registros do Inpe, em 1998. Até então, o maior valor era o de 2005, com 12.536 focos para 12 meses.

Em área, as queimadas já consumiram neste ano cerca de 23% do bioma, segundo estimativas do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da UFRJ, compiladas até 27 de setembro. O cálculo aponta que o fogo atingiu até domingo 34.610 km².

O Instituto Centro de Vida (ICV), organização de Mato Grosso que acompanha de perto as queimadas no bioma, relatou no início da semana que as primeiras chuvas de setembro não foram capazes de controlar os incêndios no Estado.

Segundo o ICV, o fogo segue avançando pelo Parque Estadual Encontro das Águas, maior reduto de onças pintadas do mundo, que já teve 93% de sua área atingida. Outra unidade de conservação afetada foi a Estação Ecológica Taiamã, com 27% da área queimada

Na Amazônia

Na região da Amazônia, foram 32.017 focos, alta de 60,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, que teve 19.925 focos em setembro. É o maior valor desde 2017 para este mês no bioma.

Em agosto houve leve queda dos focos na área, em comparação com os números do mesmo mês no ano passado (29.307 ante 30.900). As queimadas em agosto do ano passado tinham sido as piores desde 2010 e deram início às críticas estrangeiras sobre a falta de atenção do governo federal à região. Foi também quando ocorreu o chamado “Dia do Fogo”, em que proprietários de terra do Pará, de modo coordenado, colocaram fogo em várias regiões simultaneamente, segundo as investigações.

A queda registrada neste ano, porém, pode estar subestimada. O Inpe informou que os valores estão menores em razão de uma “indisponibilidade global de dados”, na segunda quinzena de agosto, do sensor de um dos satélites da Nasa usados para medir as queimadas. Com isso, a expectativa é de que o total de focos de calor na Amazônia tenha sido maior que o registrado em agosto, Os dados ainda não foram atualizados.

Soluções

O número recorde de focos de incêndio no Pantanal está mobilizando cientistas e empreendedores da região para minimizar os efeitos das queimadas. Nesta quinta-feira, o Estadão promoveu uma live no Facebook com Michelle Gahyva, gestora da Pousada Rio Claro, e Cátia Nunes da Cunha, professora titular da Universidade Federal do Mato Grosso.

Para elas, é importante pensar em protocolos para recuperação da vegetação e da vida silvestre do Pantanal. “A grande preocupação é manter a água. Que tenhamos as chuvas, porque isso é fundamental para manter as vidas. Se não as tivermos, vai ser ruim para todos. A falta de água é o nosso maior inimigo”, avaliou a professora Cátia.

Ela compara a situação atual à longa estiagem de 1963. “De 1963 a 1973 passamos um período com fogo, mas a realidade do Pantanal era outra. Agora, o fogo nos pegou a todos.”

Os incêndios também afastam os turistas. O setor hoteleiro já sofreu com a redução dos visitantes e agora sofre com as queimadas. Michelle, que tem uma pousada no km 42 da Rodovia Transpantaneira, compara: “O fogo entrou em nossa propriedade, adotamos protocolos, mas não bastou”. As duas entendem que é preciso um planejamento de médio e longo prazo. “Temos de fazer uma iniciativa para poder daqui a dois ou três anos ter um pouco mais de tranquilidade.”

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