Levantamento
feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Universidade de
São Paulo (USP) apontou que o Brasil passou a ter mais 9.653 médicos nos cinco
primeiros meses do ano. Os novos registros foram influenciados pelo crescimento
da oferta de cursos e vagas de medicina nos últimos anos e também pela
antecipação de formaturas para reforço de frentes contra a covid-19.
Desde 2000, 280.948 médicos saíram das faculdades, ou seja, uma média de 14 mil
ao ano. Em 2020, em cinco meses, o País formou quase 70% da média anual das
quase últimas duas décadas.
Ao todo, hoje, o Brasil conta com 523.528 médicos com registros ativos nos
conselhos regionais. Desses, 422 mil (80%) têm menos de 60 anos. Portanto,
estão fora a faixa etária de risco e poderiam, caso não tenham comorbidades,
atuar na linha de frente do combate ao novo coronavírus.
Para o CFM, o resultado mostra um contingente significativo em “condições
de engrossar” o enfrentamento à doença. O levantamento não detalhou as
especialidades de cada um dos profissionais. Apesar do quantitativo, a
distribuição dos profissionais pelo Brasil indica a concentração deles em
grandes centros.
Os Estados que mais lidam, proporcionalmente, com mortos pelo novo coronavírus
não são os que têm maior número de profissionais da medicina por habitante. É o
caso, por exemplo, do Amazonas. Com 548 óbitos para cada milhão de habitantes,
o Estado do Norte do País é o apenas o 23.º em total de médicos por pessoa. Há
menos de dois profissionais para cada mil moradores.
No Ceará, conforme dados consolidados até a segunda-feira pelas secretarias
estaduais, eram 459 mortos por milhão de habitantes. Em proporção de médicos
comparados com a população, o Estado era só o 18º.
Donizetti Giamberardino, vice-presidente do CFM, afirma que as causas do
desequilíbrio na distribuição de médicos pelo País são históricas e não podem
ser superadas sem uma política pública consolidada para redistribuição dos
profissionais.
“Temos um número suficiente de médicos no Brasil para combater essa
situação. A única coisa que temos, que é uma herança pré-pandemia, é uma grande
desigualdade social. Como consequência temos uma má distribuição de médicos
pelo Brasil. Os médicos ainda seguem a riqueza do Brasil, isso em virtude de
falta de políticas públicas efetivas de fixação”, afirmou ao Estadão.
Sem adesão
A desigualdade também aparece no volume de adesões ao programa “Brasil
Conta Comigo”, lançado pelo Ministério da Saúde em busca de voluntários
para atuação contra o novo coronavírus. Segundo o estudo do CFM, 10.588 médicos
se apresentaram até o final de abril.
Mais da metade deles se voluntariaram para centros que incluem São Paulo
(19,6%), Minas Gerais (12,9%), Rio Grande do Sul (10,3%), Paraná (6,5%) e Rio
de Janeiro (6,2%). Para Sergipe, Tocantins, Roraima, Acre e Amapá apareceram
menos de 100 voluntários em cada um desses Estados.
“Não há uma política de fixação do profissional de saúde nas regiões mais
remotas do nosso Brasil. Não é com coisas voluntárias que vamos resolver a
distribuição”, opinou Donizete Giamberardino.
Pandemia e mais vagas aceleram a formatura de médicos no país
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