‘O maior desafio foi ser a primeira oficial feminina do CPA/M-7’

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Mayara Nascimento

Ser policial militar e ser responsável pela segurança de todos, era uma profissão tida como masculina, afinal, antigamente a mulher era limitadas apenas às tarefas de casa. Hoje, elas conquistam cada vez mais espaços e cargos importantes, e quebram barreiras históricas.

A coronel Rita de Cassia Romão Azevedo, de 48 anos, assumiu o comando do 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM/M) de Guarulhos em junho de 2019. Hoje é responsável por 598 policiais que patrulham a região entre o Parque Cecap e a rodovia Fernão Dias, até a divisa da cidade com a Penha. Além do planejamento estratégico e da equipe para comandar, a coronel ainda vai para a rua em patrulhamento e em ocorrências.

Policial militar há 30 anos, Rita se tornou a primeira tenente mulher no Comando do Policiamento de Área Metropolitano 7 (CPA/M7), que é responsável pelo patrulhamento de sete cidades – Arujá, Cajamar, Caieiras, Francisco Morato, Mairiporã e Santa Isabel, além de Guarulhos. Na época Mogi das Cruzes também fazia parte da área. Em 2016 Rita assumiu o Batalhão de Franco da Rocha, que também abrange Mairiporã, Cajamar, Francisco Morato e Caieiras.

Sua carreira se iniciou em 1991, quando entrou na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Em 1993 ingressou na faculdade de Direito e em 1999 passou na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Por ser uma servidora pública, é impedida de exercer a profissão de formação. A coronel recebeu a Folha Metropolitana e compõe a série de entrevistas especiais neste mês com mulheres.

Abaixo os principais pontos desta entrevista que pode ser conferida na íntegra no site www.fmetropolitana.com.br.

Folha Metropolitana – Naquela época, como foi para uma mulher entrar em uma profissão considerada masculina?

Rita de Cassia Romão Azevedo – Antigamente havia separação de quadro. O quadro masculino, para o acesso a Policia Militar, era separado do feminino, então nós concorríamos a vagas diferentes. O nosso era menor, eu concorri a 16 vagas, enquanto os homens tinham 152. Cada 100 candidatas brigavam por apenas uma vaga no concurso no qual participei. Hoje é aberto, o número de vagas não é de acordo com a identidade de gênero.

Como foi o começo da profissão?

Saí da academia do Barro Branco e fui classificada no antigo batalhão feminino. Antes as mulheres ficavam separadas em determinados batalhões, na capital, e os homens tinham batalhões só deles. Fiquei classificada no 3º BPM da zona norte, e de lá fui para o 4º BPM masculino, minha turma foi pioneira a compor um ambiente misto.

E como foi a adaptação para compor o primeiro batalhão misto?

No começo assustou muito. Tudo que é novo você não sabe o que esperar. Com o passar dos meses, foi tranquilo. Todos viram que era uma coisa natural, que já acontecia em outras profissões.

Não ter batalhão separado foi uma grande conquista das mulheres. Qual sua avaliação sobre o caso?

Atualmente essa separação não funcionaria. Houve a extinção dos batalhões só femininos e as policiais foram alocadas com os homens, na configuração que todos conhecem hoje. Isso remonta da origem da Polícia Militar. Foi uma coisa natural, pois na academia já tínhamos a experiência de estudarmos juntos.

Como Guarulhos surgiu em sua vida profissional?

Cheguei a Guarulhos em 1995 no 15º Batalhão, onde fiquei até 2002. Então fui movimentada para o Comando de Policiamento Metropolitano. Em 2005 fui para a diretoria de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos, e promovida a capitã. Em 2010 voltei para o 15º e permaneço até hoje.

Qual é a relação da sua família com sua profissão?

Meu pai é militar, ele me inspirou. Minha mãe queria que eu fizesse outra coisa, pois ser policial é perigoso, mas os argumentos dela não me convenceram. Meu pai me acompanhou em todas as fases do processo seletivo, me apoiou e sofreu junto comigo. Meu marido e meu sogro também são militares, então fica a torcida para que algum dos meus filhos também siga na área, mas vou entender se quiserem outra coisa.

Ser policial era seu sonho de criança?

Como a maioria das crianças, cada hora eu queria uma coisa. Mas sempre gostei da área, ainda mais por sempre ver meu pai chegando em casa fardado todos os dias. Já tinha vontade de entrar para a profissão, com o incentivo dele, a vontade foi ainda maior. Na hora em que fiz o concurso, e comecei o período de adaptação, tive certeza. Nunca duvidei da profissão e nunca pensei em desistir.

Quais foram os maiores desafios nesses anos de carreira?

O que mais me marcou foi minha chegada no 15º Batalhão, pois não havia oficial mulher na área do batalhão e nem no Comando de Policiamento da região. Causava estranheza uma mulher dando as ordens. O maior desafio foi ser a primeira oficial feminina do CPA/M-7. Pra mim era uma coisa natural, lidar com homens e com mulheres. Mas com o pessoal que chegou antes tinha uma estranheza por ser algo novo. Tudo que é nova causa um impacto. Com o tempo foram se acostumando e sempre com respeito.

Qual conselho daria para as mulheres que querem entrar na profissão?

Estudar muito para o concurso, que é bem concorrido. É preciso ter uma preparação física e estar certa do que quer ser. Ser PM é fazer uma entrega, nossa profissão exige isso. Você não cumpre só seu horário, como em uma empresa. A farda é uma segunda pele. Você fica 24h à disposição do serviço e da população, então precisa ter essa disposição de querer ajudar o outro. Tem que ter empatia. É um concurso público, mas a função do policial militar vai muito além de uma prova. Não desliga, é o tempo todo, feriado, final de semana, de madrugada, é uma doação para uma instituição.

Além de passar pelas transições dos batalhões, quais foram as principais mudanças da sua carreira?

A cada promoção nós nos preparamos para assumir mais responsabilidades. Hoje eu tenho a ajuda do computador e da tecnologia para atender mais ocorrências e auxiliar no planejamento. Isso torna o serviço mais eficiente. Antes era tudo na máquina de escrever e no fax, hoje temos uma mobilidade maior.

Como você se vê em cinco anos?

Meu tempo de serviço obrigatório na PM se encerra daqui um ano, então estarei aposentada. São 30 anos de serviço incessante e vai ser difícil não fazer mais parte diariamente da profissão. Tem um curso interno preparatório para a transição para a aposentadoria, para aceitar o desligamento. Nunca vou deixar de ser policial militar por dentro. Como tenho a faculdade, poderei exercer a profissão de advogada, ajudando a polícia de outra forma.

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