Mesmo com vacina, retorno ao trabalho presencial é parcial

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Nos últimos meses, a vacinação no Brasil se acelerou. Atualmente, mais da metade da população tomou, pelo menos, a primeira dose do imunizante contra a covid-19. Os números de casos e mortes, que ainda estão altos, tiveram redução desde o pico no período entre abril e junho. Mesmo com um cenário mais positivo pela frente, as empresas e os seus funcionários não estão tão animados para voltar ao trabalho presencial: o retorno está sendo a “conta-gotas”.

O desejo das companhias em retomar as atividades presenciais, mesmo que de maneira híbrida, é claro. Segundo estudo realizado pela consultoria KPMG no primeiro semestre, 66% das empresas estavam interessadas em voltar ao trabalho presencial ainda em 2021, e os 34% restantes em 2022.

A situação, porém, já mudou desde o levantamento. “Agora estamos vendo que está em um patamar de 50% para voltar neste ano e 50% no ano que vem”, afirma Luciene Magalhães, sócia da KPMG. Não por acaso, 74% das empresas ouvidas pela consultoria afirmam que os planos da volta ao trabalho presencial mudaram em algum momento por causa do surgimento de novas cepas. Além disso, a vacinação completa ainda está na casa dos 20%, o que também atrapalha retomada.

A empresa de benefícios Ticket é uma das que estão bem conservadoras com a volta ao escritório. A companhia já possuía um programa de trabalho híbrido – misturando presencial e home office – desde 2018. Mas, com a pandemia, 100% dos funcionários foram para casa e por lá ficaram. Agora, a empresa começa a desenhar um retorno dos 600 colaboradores em três fases. A primeira delas, que deve ocorrer ainda neste ano, contemplará apenas voluntários vacinados e deve alcançar cerca de 10% dos funcionários, sendo que serão dois dias no escritório e três em casa.

Já a segunda terá um aumento considerável, de até 50%, respeitando os protocolos de distanciamento. A terceira fase, que só deve acontecer no ano que vem, terá 100% dos funcionários, mas trabalhando no modelo híbrido. Segundo José Ricardo Amaro, diretor de recursos humanos da Ticket, tudo está sendo feito em contato com os empregados. “E a quantidade de dias trabalhados em casa e no escritório vai variar de área para área”, diz.

O modelo híbrido é visto tanto por empresas quanto por especialistas como um caminho sem volta. Uma pesquisa realizada pela companhia de coworking WeWork com a consultoria Workplace Intelligence aponta que 53% dos funcionários desejam trabalhar três ou mais dias em casa por semana.

O Mercado Livre vai apostar nesse modelo, mas hoje vive uma dualidade. Enquanto há mais de 6 mil colaboradores trabalhando presencialmente nos centros logísticos, a sede, em Osasco (SP), com mais de 33 mil m², está vazia. Nesse segundo caso, mesmo sem prazo para voltar, há uma certeza: o retorno será no esquema híbrido. A empresa criou um comitê para avaliar a volta e definiu que, quando tudo estiver normalizado, 50% da carga horária dos funcionários será de casa e a outra metade, na sede

“Entre os indicadores que avaliamos para a volta está a evolução dos índices pandêmicos e de vacinação das equipes, acompanhado a partir de um formulário em que o colaborador pode informar se já foi vacinado”, diz Patrícia Monteiro, diretora de pessoas do Mercado Livre no Brasil.

Novatos. Existem os casos de pessoas que foram contratadas durante a pandemia e sequer tiveram contato com os colegas. Beatriz de Oliveira, analista de marketing da startup de entregas Daki, é uma delas. Para ela, seria interessante voltar a trabalhar pelo menos dois dias da semana no escritório. Mas existe um problema: a Daki, que foi fundada em janeiro deste ano e já recebeu um aporte de quase R$ 1 bilhão, sequer tem sede.

De lá para cá, a empresa já contratou 150 pessoas – um número que cresce todos os dias. Segundo Rafael Vasto, presidente da Daki, a maior parte está trabalhando de casa e alguns poucos ficam em salas dentro das “dark stores” (lojas ocultas) que a empresa utiliza como estoque.

A pandemia fez com que a procura por um escritório central ficasse para depois, mas a empresa já está em busca de espaços que comportem um número ainda maior de funcionários, pois tem mais vagas abertas. “Montar um time e construir uma cultura sem que ninguém se conheça é mais difícil e, agora que a vacinação está andando, estamos pensando em um escritório, que adotará modelo híbrido”, afirma Vasto.

Saudade do escritório

No entanto, ainda existe uma fatia de 34% que gostaria de trabalhar todos os dias do escritório, seja por falta de estrutura em casa ou por se concentrar melhor no escritório, segundo o estudo da WeWork e da Workplace Intelligence. Esse cenário é cada vez mais distante, mas há empresas que querem 100% da sua força de trabalho em alguns dias da semana. É o caso da Simpress, que faz locação de equipamentos e soluções para gestão de documentos.

A empresa viu a demanda para seus negócios, especialmente para a locação de computadores e notebooks, disparar durante a pandemia Com um crescimento de 35% no primeiro semestre, a empresa chegou a faturar R$ 1 bilhão em 2020. Para dar conta da demanda, o presidente da empresa, Vittorio Danesi, esperava que essa volta fosse ser mais rápida.

Hoje, o escritório da companhia está completamente vazio. Danesi, porém, espera que até dezembro todos os seus 1,9 mil funcionários estejam vacinados e trabalhando presencialmente de terça a quinta – já segunda e sexta, todos farão home office. A partir de setembro, todos os funcionários que tiverem tomado as duas doses serão convocados a voltar à sede. “Há um desejo grande de as pessoas voltarem ao escritório. O home office não substitui a troca diária que acontece na empresa”, afirma o executivo.

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