Por conta da crise do novo coronavírus e das
medidas de isolamento social adotadas, as pequenas e médias empresas de
diversos setores passaram a sentir quedas bruscas na procura de seus serviços e
produtos e, consequentemente, uma redução no faturamento. Em busca de se
adaptar às necessidades do momento para sobreviver, diferentes negócios
passaram a produzir máscaras e protetores faciais – uma das grandes demandas de
proteção durante a pandemia.
É o caso da Imageway, empresa de comunicação
visual que produz faixas, banners, painéis comemorativos e outros itens para o
dia a dia e para eventos. Os donos, Marisla e Adolfo Martins, contam que
sentiram a demanda do negócio chegar a quase zero depois que o isolamento foi
decretado no Estado de São Paulo.
Logo no início da pandemia, antes do uso de
máscaras se tornar obrigatório, o casal já havia decidido adotá-las por fazer
parte do grupo de alto risco. Como não achavam à venda a proteção ideal,
contam, eles mesmos decidiram produzir a máscara e entraram em contato com um
dos fornecedores de folhas de acetato Esse equipamento de proteção é parecido
com uma viseira, também chamado de face shield.
“Quando fomos buscar o material, vimos que
não havia tanta disponibilidade (desse tipo de máscara) no mercado e que
poderíamos passar a produzi-las, fazendo algo que beneficiasse tanto as pessoas
quanto nós mesmos”, diz Marisla.
Mesmo usando as máscaras desde meados de março,
eles passaram a comercializar o produto somente em abril, já que precisaram
antes desenvolver o projeto e adaptar a empresa. “O projeto da máscara
protetora precisa ser diferente e possui muitos detalhes, além de três
tamanhos: recém-nascido, criança e adulto “
A empreendedora também conta que o casal
pretende continuar a produção de equipamentos de proteção individual mesmo num
cenário pós-pandemia. “Nós fizemos um curso de bombeiro e socorrista, mas
nunca usamos de fato. Acredito que agora seja um momento para fazer bom
proveito disso.”
Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de
Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a adaptação do negócio em
um momento como esse é louvável. “A partir dessas iniciativas, a empresa
também pode encontrar um outro caminho para crescer. Pode ser que não queira
voltar atrás e que queira seguir com os dois caminhos.”
Outra empresa que também se adaptou foi a
Isoflex, produtora de objetos para gestão visual, com itens como pastas de
procedimentos, displays, porta folhas, quadros flexíveis e outros. “No
final de março, sentimos uma queda brusca, porque foi quando os fechamentos
começaram a acontecer de fato. Como tínhamos a matéria-prima, resolvemos fazer
as máscaras”, conta Carolina Hartmann, diretora de marketing.
A produção da máscara de acetato pode ser até 20
vezes mais rápida do que os modelos impressos por máquinas 3D, diz ela, o que
fez com que a empresa passasse a produzir mais de 200 mil máscaras por mês.
A dificuldade, no caso da Isoflex, foi
desenvolver um novo canal de vendas. “Como não trabalhávamos com esse tipo
de produto, tivemos que nos mexer muito rápido para conseguir entrar nesse
meio”, conta Carolina.
A empresa percebeu que, com o tempo, houve
aumento da concorrência no mercado de protetores e máscaras, então passou a
desenvolver outros sete produtos específicos para a proteção contra o
coronavírus, como barreiras de supermercado e adesivos orientadores de piso.
Segundo Carolina, esse momento proporcionou
trabalhar com clientes de novos ramos e, num momento pós-pandemia, enxerga como
possibilidade expandir a cartela de produtos e a carteira de clientes.
Quem já era do setor de confecção
Não foram somente as empresas que já trabalhavam
com o acetato que se transformaram. A Estojos Baldi, produtora de embalagens e
mostruários para joalherias, passou a incluir em sua linha de produtos a
produção de máscaras de tecido.
“Na pandemia, com os shoppings fechados, o
nosso mercado sentiu. Como nós produzimos os saquinhos para embalagem, temos um
setor de costura e decidimos produzir as máscaras”, diz Walter Baldi
Júnior, um dos diretores da empresa. Segundo ele, a nova atuação foi pensada
levando em conta manter a empresa aberta para manter os empregos – são 150
funcionários.
Segundo o coordenador do MBA de Gestão
Financeira da FGV, é importante fazer as contas para fazer a adaptação.
“Nesse momento de crise, o que deve ser levado em consideração é a questão
financeira da empresa. A decisão é tomada pela sobrevivência do negócio.”
No caso de Matheus Muniz, dono da marca de
roupas femininas Slave Wave, a atuação no setor de vestuário, com acesso à
matéria-prima e às costureiras, também facilitou a entrada no setor de
máscaras. A dificuldade, no entanto, foi com relação aos clientes.
“Já tem muita oferta do produto e até mesmo
os fornecedores estavam trabalhando com o público final”, conta. Ele
explica que, para se diferenciar, buscou trabalhar com máscaras personalizadas,
assim como fazia com os uniformes antes da pandemia.
O dono da empresa relata que, em abril, as
vendas de roupas da loja online dobraram em relação ao mês anterior e, somadas
às máscaras e uniformes industriais, conseguiu equiparar as vendas de todo o
mês de março. Já em maio, Matheus faz parte do grupo daqueles que, com tanta
oferta no mercado, perceberam uma queda na venda de máscaras.
De acordo com Juliana Segallio, consultora do
Sebrae-SP, alguns pontos devem receber maior atenção durante essa adaptação.
São eles: a possibilidade de demanda, a estimativa de formação de custos, como
o produto será oferecido e entregue, os meios de pagamento e os meios de divulgação.
“Os pequenos precisam estar atentos ao termômetro dos consumidores, nos
comportamentos, nas demandas. Não dá para olhar só para dentro da
empresa.”
Mapa das Máscaras reúne costureiras
Além das pequenas indústrias, costureiras e
outros autônomos uniram a necessidade e o tempo ocioso em casa para produzir e
vender máscaras de pano. Para reunir essas iniciativas e dar visibilidade aos
produtos, foi criado durante o Mapa das Máscaras, uma plataforma sem fins
lucrativos que hoje tem mais de 3 mil perfis cadastrados.
Gislene Gutierrez foi uma das pessoas que
aderiram à plataforma. A aposentada conta que, antes da pandemia, vinha atuando
de forma autônoma e trabalhando para aplicativos de corrida como 99, Lady
Driver e Baby Pass. Com o início do isolamento e com a queda das chamadas,
decidiu pôr em prática suas habilidades de costura do passado.
Como já teve confecção, Gislene tem uma máquina
em casa até hoje “Fazendo parte do grupo de risco, eu tive que retomar as
atividades de costura. Eu preciso pagar minhas contas”, conta ela.
“Comecei a entrar em contato com os
condomínios próximos da minha residência, que têm grupos de WhatsApp, além de
contar com a ajuda da minha filha, que é da área da saúde”, diz Gislene
sobre as estratégias para vender sem precisar sair de casa.
Ela reforça o quanto a venda das máscaras têm
ajudado na renda da família nesse momento e, por outro lado, lamenta ter que
produzir esse tipo de item. “Quando eu digo que não estou feliz em
produzir (as máscaras), é por conta da situação da pandemia, infelizmente
ocorrem muitas mortes. Mas esse é um produto que salva vidas.”
Máscaras alteram foco de pequenas indústrias na pandemia
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