Manhãs de 71 – Roberto Samuel

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Ainda havia garoa por aqui. Os invernos traziam geadas nos meses de junho e era possível encontrar plantas cobertas de gelo nas manhãs mais frias de 1971. Os militares ainda mandavam muito e Jean Pierre Hermann de Morais Barros estava nomeado como prefeito interventor de Guarulhos. Ele ocupou o lugar do prefeito eleito Alfredo Nader, o qual foi cassado com base no Ato Institucional n° 13, e pelo decreto de 13 de junho de 1970. Nader ficou por seis meses no Executivo. Existia uma aura de inocência entre os menos avisados, entre os enamorados e nas crianças. Poucas ruas eram pavimentadas naquela época, a maioria com paralelepípedos.

Antes dela houve outros, mas ela veio e ficou gigante. E nas suas entrelinhas podemos encontrar a alma da cidade. Boa parte do espírito de Guarulhos ficou gravado em suas páginas. As suas aspirações, suas angústias, suas tragédias, os nomes de alguns de seus filhos e seus inúmeros sonhos não realizados. As promessas não cumpridas, o crescimento desenfreado e sem planejamento de suas ruas e bairros. As festas dos clubes, os concursos e os muitos prêmios ofertados também tinham espaço. Sua eterna teima de crescer e em não ser uma cidade dormitório; apesar dos diversos infortúnios, apesar dos constantes pesares. Em um tempo que ainda havia invernos e sonhos bem rigorosos, nascia o que anos depois viria a ser a Folha Metropolitana.

A Folha eternizou o choro de mães da periferia que perderam seus filhos para as drogas, em algum acidente banal, ou nas filas de antigos hospitais que não mais existem. Registrou o testemunho de trabalhadores que sofriam em ônibus lotados que transitavam de portas abertas pela cidade, colocando em risco a vida de quem já tinha tão pouco. O desespero dos mais humildes braçais ao ver fábricas fechando, outras indo embora para nunca mais voltar. A tristeza da queda de uma grande aeronave e as mortes decorrentes.

Também festejou as muitas vitórias de sua gente, as alegrias nos esportes, os carnavais de muitas juventudes. A chegada de pavimentações e as obras sempre bem-vindas nos mais distantes cantos da cidade, ainda pouco conhecido pela maioria dos guarulhenses. Uma cidade impressa em páginas, as histórias que fizeram o todo de uma grande metrópole. As muitas lutas políticas, as viradas históricas nas eleições como do professor Néfi tales sobre Pascoal Thomeu em 1996 e de Guti sobre Eli Corrêa em 2016. A chegada eufórica do PT à prefeitura em 2000 e sua saída melancólica em 2016.

Os jornais são partes importantes da cidade, amplificam a voz dos pequenos, que até hoje procuram a mídia para resolver algumas demandas. Ela é a voz do povo, às vezes distorcida, por vezes mal faladas, mas jamais deve ser calada. Toda vez que um jornal morre, a voz da cidade também perde um pouco de sua força. Quanto mais jornais e meios de comunicação, mais a cidade terá parâmetros para tirar suas próprias conclusões. E eu que um dia sonhei em escrever em suas páginas, hoje tenho o sonho realizado.  Sonho de um tempo em que os meninos gritavam: Extra, Extra pelas ruas de Guarulhos carregando embaixo do braço um pacote da Folha Metropolitana.

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