Coluna Livre com Hermano Henning

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Foi um dia de coincidências esta segunda-feira. Recebi pelo WhatsApp, logo de manhã, um vídeo de dois minutos com uma reportagem sobre a linha de trem que passava por aqui ligando Guarulhos à estação da Luz, em São Paulo. Era o ramal da Cantareira.

A primeira estação, ao entrar em nosso território, era a de Vila Galvão. A ferrovia seguia por treze quilômetros até chegar à estação da Base Aérea, em Cumbica. Passava por seis bairros, cada um deles com uma estação construída de madeira. Torres Tibagi, Gopoúva, Vila Augusta, centro de Guarulhos…

A última das estações, o ponto final da linha, era a de Cumbica, a única construída de alvenaria. Hoje lá funciona a lavanderia da Base Aérea.

Pois bem. Ontem mesmo, o amigo Valdir Carleto, durante o almoço, me presenteou com um volume do livro “Nuances de Uma Rua”, escrito pela professora Norma Zacharias Saraceni.

Logo nas primeiras páginas, a escritora fala de sua experiência, nos anos cinquenta, quando pegava o trem para frequentar o curso de professora na Escola Normal, em São Paulo.

O pai de Norma tinha uma loja de tecidos na Rua D. Pedro II. Ele chegou do Líbano ainda nos anos quarenta, recém-casado e aqui o casal teve muitos filhos. A família morava ali mesmo, nos fundos do prédio que fazia frente para a D. Pedro, praticamente a única rua de comércio da cidade.

Era a residência da família com amplo quintal onde se cultivava uma horta com alface e almeirão, pés de goiaba, laranja, bananeiras e até um galinheiro.

Ela explica no livro: “A rotina da vida transcorria obrigatoriamente na Rua D. Pedro II. O ponto final dos ônibus era na D. Pedro II. Era o caminho para a estação de trem: saindo da D. Pedro, entrávamos na rua Cerqueira César e logo à frente estava a estação ferroviária.

A linha do trem que então era chamada de Ramal da Cantareira, existia nos tempos de escola de Norma Saraceni. Ela começou em 1915.

Norma prossegue, num texto gostoso de ler:

— A estação era bem pequena, mas muito movimentada. Comerciantes iam levar e buscar suas mercadorias, segurando, como podiam, pesados fardos; estudantes desciam correndo a Cerqueira Cesar, parecendo sempre atrasados para o trem das dez horas.

O vídeo da repórter Caroline Campos mostra, preservada, uma das locomotivas do trem de Guarulhos. Uma Maria Fumaça que permanece exposta na praça, junto ao que restou da estação. Funciona ali uma unidade da Guarda Municipal.

O último dos trens circulou no dia 31 de maio de 1965.

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