Coluna Livre com Hermano Henning

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Paulo Francis, seu companheiro de redação no escritório da Globo em Nova Iorque, o chamava de Dona Eustácia. Confesso que, até hoje, não consegui saber por quê. Sei que não era um apelido carinhoso. Os dois não se suportavam. Paulo Henrique Amorim de um lado. Paulo Francis do outro.

Éramos oito pessoas. Dois câmeras, dois editores de vt, dois produtores e dois repórteres. Nove com o Francis que fazia comentários para o Jornal da Globo. Havia ainda alguns funcionários americanos que trabalhavam no serviço burocrático da Starlight, a empresa que Roberto Marinho mantinha nos Estados Unidos. Trabalhamos juntos de 1991 a 1995.

Paulo Henrique Amorim, jornalista experiente, dono de um prêmio Esso, com passagem pelos maiores jornais e revistas do país, era praticamente um novato em TV. Mas já era chefe do escritório e o jornalista da rede mais requisitado no exterior. Não se limitava a cobrir os Estados Unidos. Fazia questão de estar em todas, viajando o mundo, junto com seu fiel companheiro, o editor de vídeo Raimundo Lima, hoje diretor do Departamento de Operações do SBT.

Inimigo da Globo

Amorim era viciado em trabalho. Era do tipo que cobrava o escanteio e corria pra cabecear pro gol. Fez grandes matérias e belas entrevistas. Dedicou-se à TV e à internet quando voltou ao Brasil. Apesar do jornalismo direcionado que praticava, não era um militante clássico de esquerda. Pelo menos para quem o conhecia mais de perto. Era panfletário sim, mas com preocupações de credibilidade. Por alguma razão, Paulo Henrique acabou com birra da Globo, de quem era muito amigo nos tempos do dr. Roberto, e detestava Fernando Henrique Cardoso. Tenho por mim que estavam aí as razões que o levaram à militância a favor do PT nesses últimos tempos. Tinha um guru. Era Mino Carta, com quem trabalhou na revista Veja durante alguns anos. Fez parte de um histórico time de jornalistas que criaram Realidade, na Editora Abril, a revista que marcou época com reportagens incríveis. Também desconfio que Mino Carta foi um dos que o inspiraram na militância lulopetista.

Paulo Henrique Amorim era cardíaco. E se cuidava muito. Foi operado num hospital de Nova Iorque logo quando cheguei lá pra trabalhar sob a chefia dele na redação. Conviveu com duas pontes de safena durante quase trinta anos sem se descuidar. Morreu de enfarte na madrugada de ontem em sua casa no Rio de Janeiro. Colecionou desavenças, conflitos, mas deixou uma contribuição inegável no jornalismo impresso e televisivo. Foi um jornalista de prestígio.

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