No
momento em que Giancarlo Esposito, vestido com armadura e capa, se viu cercado
por 300 stormtroopers, ele se sentiu poderoso. “Eu não fiquei só pasmo de
estar no universo Star Wars, senti responsabilidade”, diz em entrevista
ao Estadão o ator, que interpreta Moff Gideon em The
Mandalorian, que tem a primeira temporada completa e a segunda em andamento no
Disney+. “Eu percebi que tinha sido colocado na posição de interpretar
esse personagem com todas as qualidades que eu sempre sonhei ter, não apenas de
poder, mas essência, estatura, maravilhamento, liderança, um cara inteligente,
um pensador que conhece todos os movimentos no tabuleiro de xadrez e está dez
passos adiante do parceiro de jogo.”
Ex-governador do Império, Moff Gideon é um dos
grandes enigmas da série, que conta com oito episódios em cada uma das
temporadas. Ele persegue Mando (Pedro Pascal), o caçador de recompensas que é o
personagem principal e protetor da Criança, popularmente conhecida como Baby
Yoda, o verdadeiro alvo de Moff Gideon. “Ele não é anônimo como Darth
Vader, mas não sabemos o que realmente deseja. Sabemos que ele quer a Criança,
mas não para quê. E sabemos que ele é um cara que coloca a mão na massa,
consegue fazer as coisas.” Por exemplo, ele possui o sabre negro, que é
uma arma antiga e poderosa dos mandalorianos. “Sabemos que há alguma
conexão com Mando, mas não como Gideon tem essa arma. Como era um guerreiro,
vou dar a dica aqui que vamos ver cada vez mais: ele sabe usar essas armas
todas, pilotar naves. Ele é de um mundo imperial antigo, mas se move sem
dificuldade nesse universo contemporâneo. Como sou um fã ardoroso de Star Wars,
penso que há uma possível ligação entre Moff e Darth Vader.”
Para todos os efeitos, Moff Gideon é um vilão,
um administrador dessa parte do universo para o Império, derrotado no final de
O Retorno de Jedi. A série se passa cinco anos após a derrubada do Império, num
período de caos, em que a Nova República, o governo democrático formado pela
Aliança Rebelde, não alcançou plenamente todos os recantos da galáxia. Algumas
são terras sem lei, como no Velho Oeste. O papel foi perfeito para Esposito,
que se especializou ao longo de carreira em interpretar personagens moralmente
ambíguos. “Eu percebi logo cedo que as pessoas ficam intrigadas com a
psicologia de alguém que pode ser nefasto ou rotulado como vilão. Mas eu sempre
tive sucesso em emprestar uma dose de humanidade aos vilões que interpretei,
porque quero mostrar que são seres humanos que cometem erros e têm um lado de luz
e outro de sombras dentro deles”, afirma.
O ator diz que não vê Gideon como bom ou mau e
que suas intenções podem ser boas, de restauração da ordem e da calma.
“Ele vem de uma galáxia que funcionava e então desmoronou. Não posso
imaginar que não queira ver pelo menos alguns dos elementos daquela galáxia
recuperados. Gideon vê a situação desesperadora e a necessidade de um milagre
para consertar as coisas, restaurar a confiança uns nos outros, funcionar
apesar da disparidade e da divisão. Eu acho que ele gostaria de ver a ordem
reinando novamente e que provavelmente tem os meios de conseguir isso, mais do
que ninguém”, diz. “Ou talvez ele tenha chegado a uma posição de
poder e percebido que podia controlar todas as peças do tabuleiro.”
Para o ator, que concorreu quatro vezes ao Emmy
– uma por Breaking Bad, duas por Better Call Saul e uma por The Mandalorian –
ter a oportunidade de fazer o papel foi um sonho. Jon Favreau pensou em
Esposito imediatamente ao criar a série. “Eu sou meio italiano, meio afro-americano.
Mas tenho orgulho de estar numa situação em que não sou visto apenas como um
homem negro. Esta é uma série multicultural e sou capaz de me apresentar assim
também. Jon Favreau teve muita sensibilidade, porque a humanidade está em todos
nós, todas as culturas, todas as cores de pele. Posso trazer uma expansão
cultural para esse personagem em particular e tenho orgulho de ter sido eleito
para fazer isso.”
Giancarlo Esposito lembra que, no passado, os
outros Moffs (governadores do Império) eram todos brancos, inclusive Peter
Cushing, que fez seu Moff muito político. “O meu é bem diferente, é um
sujeito que está tentando organizar as coisas depois que a galáxia se
dissolveu. Não quero contar quais são suas maquinações ou razões, quero que
vejam”, lembra. “Estou adorando poder fazer um personagem numa série
cheia de mitologia, que acredita na ideia de ser de serventia, de que existe um
mundo melhor, que podemos reconstruir uma galáxia dividida, coisas que estamos
vivendo agora mesmo, quando a humanidade é a chave e deveria ser a
prioridade.” O ator acha que em The Mandalorian, como na série Star Wars,
a divisão é apenas uma tática. “Uma vez que entendermos que ela é uma
distração para que uma corporação, um governo ou o que quer que seja tenha
poder sobre nós, poderemos olhar o outro nos olhos e realmente ouvi-lo. A série
mostra o potencial para um mundo melhor.”
Ator de The Mandalorian conecta seu personagem com Darth Vader de Star Wars
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