As mazelas de um carnaval

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Ainda não me decidi se o pior que vi neste carnaval foi o sofrível enredo da Gaviões da Fiel ou o obsceno vídeo postado pelo presidente Bolsonaro, me parecendo que o show de horrores prosseguirá pela quaresma.

O desfile da Gaviões da Fiel parecia estar fadado ao insucesso desde o momento que buscou reeditar o samba-enredo “a saliva do santo e o veneno da serpente”, de 1994, estilizando um Santo Antão com aparecia de Jesus que toma uma sova do demônio em pleno Sambódromo do Anhembi, entretanto, sem demonstrar em seu desfile em que momento o bem vence o mal, causando polêmica desnecessária em um enredo que se perdeu na história que tentou contar e com isso fazendo ressurgir junto com o antigo enredo, do tabaco, o preconceito que boa parte dos cristãos tem com o carnaval. O diabólico enredo custou caro à escola Gaviões da Fiel que viu a Macha Verde sagrar-se campeã do carnaval paulista, permitindo-se questionar se o castigo não veio dos céus, mesmo reconhecendo que futebol e carnaval não se confundem.

E se Bolsonaro queria causar polêmica na internet, certamente que conseguiu; pois, compartilhando um vídeo de muito mal gosto no Twitter mostrando um homem se masturbando e deixando-se mijar na cabeça, coisa que não se admite de um presidente da República, seguramente faltou-lhe bom senso e discernimento do cargo que ocupa em sua grotesca postagem, parecendo que ainda não caiu em si quanto ao respeito que deveria transmitir em seus atos e manifestações que vão muito além do território brasileiro e de seus fanáticos seguidores.

E para piorar, não contente com a repercussão negativa de sua postagem, resolveu atacar o repórter Guga Noblat e a jornalista Monica Waldwogel que criticaram sua postura em rede social, como se o trabalho da imprensa não fosse divulgar, questionar e criticar os acontecimentos públicos, como se não fosse ele a principal figura política do país; aliás, chamando para si as atenções negativas de um episódio lamentável deste carnaval, cujo vídeo certamente não tomaria as proporções alcançadas se não fosse ele o presidente do Brasil, esquecendo-se que dentre seus seguidores, mesmo acostumados as suas grosserias, há crianças e adolescentes que não mereciam a ofensa recebida pelo Twitter, ainda que sob o pretexto de mostrar o carnaval como ele é, em sua verdade nua e crua, mostrando ao mundo apenas os excessos da nossa festa popular, como se nada de bom houvesse nele, como se não atraísse o turismo e não movimentasse a economia. Mandou mal o presidente, outra vez.

Se a proposta era chocar, tanto a Gaviões quanto Bolsonaro atingiram seus objetivos, parecendo-me necessária uma imersão espiritual nesta quaresma para se restabelecer a pureza da alma e a serenidade diante das mazelas deste carnaval.

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