Apple Watch Series 6 é produto morno lançado em ano caótico

- PUBLICIDADE -

É difícil escrever sobre o novo Apple Watch Series 6, lançado em setembro passado pela Apple e vendido no Brasil desde metade de outubro por salgados R$ 5,3 mil. Continua a ser o melhor relógio inteligente para quem tem um iPhone? Sim. É uma evolução ante a versão anterior, o Series 5 (2019)? Sim. Mas as novidades deste ano são escassas. Para complicar, há o “azar” de ser lançado em 2020. É um produto morno que nasceu em um ano caótico.

Primeiramente, é preciso notar que o isolamento social provou que os relógios inteligentes da fabricante de iPhones são mais necessários em espaços públicos. Seja durante um exercício de corrida no parque, ditando uma mensagem no ponto de ônibus ou somente como um acessório de moda: trata-se de um produto feito para as ruas, e não para ficar em casa.

Depois do redesign do Apple Watch com o ótimo modelo Series 4 (de 2018), as atualizações do relógio ficaram cada vez menos empolgantes e perderam o fator surpresa, que arranca um “uau” da concorrência. Se antes havia saltos entre uma geração e outra, este Series 6 subiu apenas um degrau na linhagem dos relógios inteligentes.

Oxigênio no sangue

O grande carro-chefe da vez é o medidor de oxigênio no sangue, cujos sensores instalados na parte traseira do relógio emitem luz infravermelha sobre o pulso e medem a quantidade de oxigênio circulando na corrente sanguínea. O oxímetro funciona ao ser acionado por meio de um aplicativo nativo do sistema, o “O2 no Sangue”, ou em segundo plano, fazendo a medição regularmente conforme o nível de atividade diário do usuário.

O oxímetro provou-se bastante indiferente no dia a dia e, em contexto de isolamento social em casa, é difícil saber o que fazer com a novidade. É legal ter o registro da minha oxigenação ao longo do dia, mas não faz muita diferença no cotidiano. É fácil imaginar que deva ser uma ótima função durante uma viagem a Machu Picchu ou a La Paz, onde a alta altitude prejudica a circulação de oxigênio no sangue. Mas as possibilidades de utilização não vão muito além disso.

Importante dizer: não, o oxímetro não ajuda a antecipar resultados de covid-19, que afeta o pulmão e, com o agravamento da doença, abaixa os níveis de oxigênio do sangue. Médicos dizem que outros sintomas aparecem antes de faltar oxigênio no sangue, como febre, dor de cabeça e perda parcial do olfato ou do paladar. Não espere que o relógio preveja isso para você. Ainda é mais seguro continuar vestindo máscara, manter o isolamento social e, ao sentir os primeiros sintomas, procurar um hospital para fazer o devido tratamento.

A Apple garante que o oxímetro não tem fins médicos e que é um dispositivo de “bem-estar” (seja lá o que isso quer dizer). Na prática, a afirmação isenta a empresa de ser a responsável por gerar diagnósticos precipitados nos consumidores aflitos e incentiva que se busque ajuda profissional.

No fim das contas, o oxímetro é muito parecido com a mensuração de frequência cardíaca, apresentada na primeira edição do Watch, lá em 2014, e o sensor de eletrocardiograma, inaugurado no Series 4. É uma adição legal à família de relógios inteligentes, principalmente porque reforça o apelo de saúde do aparelho. Mas está longe de ser essencial para se ter.

Outras coisas mais

Acompanhando o oxímetro, o Apple Watch Series 6 vem com um altímetro sempre ativo e forma um par perfeito com o oxímetro para aventureiros de escaladas, por exemplo. A tela sempre ativa, lançada no Series 5 (2019), ganhou mais brilho quando o relógio permanece em repouso, o que é prático para evitar reflexos sob a luz do sol. A Apple diz que o novo chip S6, de nova geração, é um processador mais eficiente que o antecessor, mas nos testes não há um salto notável em velocidade.

O que mais empolga e tem maior utilidade no dia a dia é a bateria. A Apple facilitou as coisas e adotou o carregamento rápido, que dura cerca de 90 minutos para completar 100% da carga do relógio. Antes, esse número variava até duas horas e meia. E, ao contrário do iPhone 11 Pro, não é necessário ter um adaptador de tomada de 18W ou mais potente para desfrutar da função. (Aliás, o Series 6 não vem com carregador de tomada na caixa, apenas com o cabo magnético, antecipando o celeuma causado pelos iPhones 12.) De todo modo, a bateria não ganhou mais independência e ainda é necessário carregar o Watch diariamente, a variar do uso de cada um.

Para quem vê de fora, a mudança mais perceptível do Apple Watch Series 6 são as novas cores. Além das já clássicas modelagens em cinza espacial, prateado e dourado, o relógio é vendido nas cores azul e vermelho com acabamento em alumínio. Os acabamentos em aço inoxidável e titânio continuam disponíveis, sem as novas cores.

watchOS 7

O watchOS 7, nova versão do sistema operacional do Apple Watch, traz algumas mudanças também para usuários de outros relógios, do Series 3 (2017) em diante.

Agora é possível registrar e monitorar o período de sono, com plano de metas, horários para despertar e para ir dormir e ativação automática do modo Não Perturbe, em que notificações não são enviadas e a tela só é ligada se for acionada. Durante o Modo Sono, antes de ir para a cama, o relógio emite um aviso e, caso haja pouca bateria (menos de 30%), pede que o dispositivo seja carregado antes de ir para a cama — assim não há o risco de faltar energia durante o monitoramento.

O Modo Sono é bastante simplório. Seja lá o motivo, a Apple não quis turbinar o monitoramento de sono. Aplicativos de terceiros, como o Pillow e Sleep Cycle, já fazem esse serviço há anos e vão além: apresentam um relatório do seu sono e sabem quão leve ou pesada foi a sua noite. É estranha essa versão enxugada se for considerado o quanto a empresa quer transformar o aparelho em um dispositivo de saúde.

Há também a detecção automática de lavar mãos, primeira e única novidade para os tempos de covid-19. Por meio de sensores de movimento e microfone, o relógio identifica quando você está lavando as mãos e dispara uma contagem regressiva de 20 segundos, tempo que a Apple acredita ser o ideal para uma boa mão higienizada. Em testes, tudo correu bem — menos ao lavar louças, quando a contagem era ativada sozinha e logo cancelada, ao notar que não são exatamente a mesma coisa.

Seguindo os lançamentos anteriores, o aplicativo de Exercício ganhou novas atividades para serem registradas, como treino funcional de força e dança. E novos mostradores foram adicionados, como animojis, tipógrafos e listras. Ainda não há a possibilidade de permitir que desenvolvedores criem mostradores únicos para serem comercializados na App Store, algo muito pedido pelos usuários.

Nenhuma dessas novidades, sejam do watchOS 7, sejam do Series 6, são de tirar o fôlego, ainda mais se comparar com os lançamentos do iPhone 12 ou do iPad Air 4, muito mais frescos.

Vale a pena?

O Series 6 não é tão tentador para quem tem um relógio de menos de dois anos. Quem tem um Apple Watch Series 4 ou posterior talvez queira esperar o lançamento 2021, que deve trazer mais novidades.

Já aqueles que não têm relógio inteligente podem começar direto pelo Apple Watch SE. É um modelo bastante similar ao Series 5, mas lançado neste ano como produto intermediário e com preço de R$ 3,8 mil — mais simpático ante a alta do dólar, repassada para os produtos importados do País. O Series 3, ainda à venda, é um modelo de 2017, com design e processadores mais antigos e sem tantos sensores de saúde.

Se os acabamentos em azul-marinho ou vermelho, adição de oxímetro e possibilidade de carregamento rápido são diferenciais que valem a pena o preço mais alto, então o novíssimo Series 6 é o smartwatch que você está procurando.

- PUBLICIDADE -