‘A mulher precisa se impor’

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Lucy Tamborino

Três em cada 10 pessoas no Brasil (27%) admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe, mostram dados da pesquisa “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero” (em tradução livre do inglês), publicada no ano passado pela Ipsos.

A resistência a mulheres líderes é maior entre os homens, alcançando 31% deles – enquanto 24% das trabalhadoras no Brasil pensam da mesma forma sobre serem lideradas por alguém do mesmo sexo.

Esse percentual no Brasil se iguala ao de países como Índia, Coreia do Sul e Malásia, lugares onde a aversão à liderança feminina é bem maior que a média mundial, de 17%, segundo estudo da Ipsos.

Com isso, as mulheres ainda são a minoria em cargos de lideranças em empresas. Mas em Guarulhos, a diferença pode ser observada na Glasser, renomada indústria de blocos e pisos de concreto. Chefiada pela empresária Loredana Piovesan Glasser, a empresa foi fundada em 1971, e desde então tem se destacado no mercado. Loredana recebeu a Folha Metropolitana e compõe a série de entrevistas especiais neste mês com mulheres.

Abaixo os principais pontos desta entrevista que pode ser conferida na íntegra no site www.fmetropolitana.com.br.

Folha Metropolitana – Como foi assumir a presidência da Glasser?

Loredana Piovesan Glasser – Nasci em São Paulo, e cheguei a Guarulhos depois que meu marido, já falecido, mudou a empresa para o Bonsucesso. Foi muito difícil, porque eu era do lar e agora sempre brinco que vim para o dólar. Meu marido faleceu e tínhamos quatro filhas. Uma já trabalhava com ele no departamento comercial. Eu não trabalhava, vinha muito pouco na empresa e nem sabia todos os produtos que eram fabricados. Não tinha nenhum conhecimento, mas estudei e aprendi.

Há quanto tempo você está à frente da empresa?

Vai fazer 16 anos que estou na presidência e todos os dias têm algo para aprender. Quando cheguei aqui precisei ir a todos os setores e entender todo o funcionamento. A empresa estava praticamente falida, tinham muitos problemas e devia cerca de R$ 65 milhões. Os amigos falavam que eu ia morrer na praia. Fiquei apavorada, mas enfrentei. Tive muita ajuda dos colaboradores, eles me ensinaram muito.

Foi um desafio tirar a empresa do vermelho?

Sempre digo que foi o maior desafio da minha vida, eu aprendi que era capaz. Nós só não somos capazes se acreditarmos em pessoas que nos dizem isso. Embora não soubesse nada do trabalho, tive muita vontade de colocar tudo em ordem, até pelo meu marido, porque ele trabalhou a vida inteira e não merecia ter morrido com a empresa desse jeito. Ele morreu muitíssimo preocupado porque achava que eu não teria capacidade. Eu também achava, mas quando confiamos e pedimos para Deus, Ele nos coloca no melhor caminho.

Por ser mulher você teve que provar ainda mais que era competente?

Os funcionários sempre me trataram muitíssimo bem, mas depois eles me disseram que quando viram entrar uma mulher loira e que nunca tinha comandado uma empresa, ficaram meio desacreditados. Quando viram minha preocupação em modificar tudo, em querer aprender e ter sucesso eles acreditaram que daria certo. Embora seja mulher, sou muito respeitada. Sempre tratei os colaboradores muito bem, então hoje há uma reciprocidade entre nós.

O que é um dia comum na função?

O meu dia hoje é bem mais tranquilo do que já foi. Quando comecei chegava aqui por volta das 6h para poder entender toda dinâmica e levantar a empresa. Hoje as minhas quatro filhas trabalham aqui com sua formação. Cada uma cuida de algum setor e eu fiquei responsável pela cobrança. Estou sempre acompanhando quanto produziu, vendeu e faturou e se as visitas aos clientes foram todas realizadas. Também tenho um genro que me ajuda demais.

Com toda a responsabilidade que você assumiu, como foi lidar com a morte do seu marido?

Na verdade, ele já estava doente há 14 anos. Nós sabíamos que ele tinha um tempo menor de vida. Foi muito triste, ele era o nosso tudo. O baque foi grande, não esperávamos.

Como você concilia sua vida com a presidência da empresa?

Sou mãe, avó, filha e irmã. Gosto muito de me dedicar às pessoas e sempre olho ao meu entorno. Sou bem agitada, então eu me concilio muito bem, faz parte do meu ser. Poucos dias chego à minha casa muito cansada, normalmente tenho resistência. 

Como as dificuldades que você enfrentou mudaram a sua vida?

A necessidade da minha sobrevivência e da minha família me deixou forte como um leão. Eu já sou leonina, que é um signo de gente que é persistente. Aprendi a nunca desistir, já caí, mas levanto rápido e vou em frente.  Sou uma pessoa corajosa. Não vou falar que não tenho medo de nada, porém ele nunca me atrapalhou. Eu sempre agradeço a Deus. Também sou muito extrovertida e isso ajuda bastante também.

Você acredita que ser mulher é mais difícil na sociedade?

Antigamente enxergava que as mulheres tinham dificuldade, hoje acredito que a mulher precisa se impor. Vou a reuniões que sou a única mulher no meio de diversos homens e não me sinto diferente deles. Fui a primeira presidente mulher da Associação dos Empresários de Cumbica (Asec). A maioria das pessoas que votou em mim era homem. Depende muito mais das mulheres se colocarem em seus lugares.

Como foi receber o convite para ser secretária de Serviços Públicos na gestão Guti?

Aceitei porque fui muito bem recebida na cidade. Quando você tem dinheiro e status e é bem recebida é uma coisa, quando não tem nada e é devedora, é outra. Então me senti na obrigação de fazer alguma coisa por Guarulhos.

Como foi a experiência?

Gostei muito. Quando se é empresário é só pensar e fazer, caso esteja errado o prejuízo é só seu, na vida pública é diferente. Você não pode fazer aquilo que deseja e isso não é culpa do prefeito. Para mim existem as burocracias e as “burrocracias”. Mesmo assim nós fizemos bastante, a equipe era maravilhosa. Quando comecei a sair no jornal com insinuações muito ruins me senti muito ofendida, porque eu tenho a vida digna e minha história é linda, eu renasci das cinzas. Neste momento achei que tinha que sair e também voltar para empresa porque o pessoal sentia a minha falta.

Além da empresa, você tem forte atuação na causa animal.

Nós temos um projeto onde recolhemos animais da rua, castramos, damos vacinas e colocamos para adoção. Nosso projeto se chama Adotando Um Amigo. A ajuda que precisamos das pessoas é que eles tenham um lar. Por melhor que sejam tratados no projeto, os animais não têm uma família. Fazemos isso por amor, não temos a ajuda de ninguém.

Como funciona o processo de adoção?

Nós temos um site o www.adotandoumamigo.com.br. Quem quiser visitar os animais pode entrar no nosso site e agendar.

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