A WK Lar Incorporadora e Construtora, com sede em Guarulhos, é alvo de uma série de denúncias feitas por compradores que investiram em um empreendimento residencial ainda na planta. A empresa é acusada de atrasar as obras, acumular dívidas milionárias, comercializar unidades sem a devida regularização e deixar centenas de famílias em situação de incerteza.
De acordo com moradores e documentos disponíveis no portal JusBrasil, o empreendimento, que já teve um número expressivo de apartamentos vendidos, enfrenta sérios entraves legais. A construtora, segundo as denúncias, não possui a titularidade do terreno, o que comprometeria a legalidade do projeto. A Justiça determinou a penhora do imóvel, que corre o risco de ser leiloado. Um perito judicial foi nomeado para acompanhar o processo.
Jefferson Fernandes Lima, um dos compradores, afirma que muitos adquirentes já investiram em reformas e móveis planejados, confiando nas promessas de entrega. “A construtora garantiu que os apartamentos seriam entregues, mas a obra está travada. O terreno nem está no nome da empresa e, só a dívida ambiental, por exemplo, já ultrapassa R$ 8 milhões”, relatou.
Além da dívida ambiental, a WK Lar responde a ações judiciais por inadimplência com fornecedores, tributos municipais e contas básicas, como fornecimento de água pela Sabesp. A entrega dos imóveis, inicialmente prevista para dezembro de 2024, foi prorrogada para junho de 2025. No entanto, a falta de alvarás, a disputa jurídica pela posse do terreno e o acúmulo de dívidas tornam incerta qualquer nova previsão.
Obras lentas e falta de transparência
Caroline Pereira Soares, que adquiriu uma unidadeem 2022, afirma que foi atraída pelo preço abaixo do mercado, mas hoje entende que esse pode ter sido um sinal de alerta. “A minha torre, que seria a número 1, nem foi construída. Já se passaram quase três anos e ela está no segundo andar, enquanto outras torres avançaram. É muito frustrante”, contou.
Ela explica que os prazos de entrega variam entre os compradores e que a visitação ao canteiro de obras, antes permitida, agora está restrita. “Desisti do imóvel. Não dava mais para continuar pagando por algo sem previsão real de entrega. Hoje, estou com advogado e buscando ressarcimento”, afirmou.
Pressão e cláusulas abusivas
Além dos atrasos, compradores denunciam práticas consideradas abusivas por parte da empresa. Entre elas, estão reuniões com promessas vagas e pressão para assinatura de aditivos contratuais que prorrogam os prazos de entrega por tempo indeterminado. Em alguns contratos, foram incluídas cláusulas que impedem os clientes de falar negativamente sobre a construtora.
“Muitos foram induzidos a assinar documentos que só favoreciam a empresa. Quando alguém tenta cancelar o contrato, recebe apenas parte do valor de volta — isso quando recebe. Alguns conseguiram uma ou duas parcelas e depois não viram mais nada”, relata um comprador, que participa de um grupo de mensagens com outros prejudicados.
Especialista aponta irregularidades
Para o advogado Thiago Pereira, especialista em direito imobiliário, a situação expõe falhas na
fiscalização do setor. “Infelizmente, esse tipo de prática é mais comum do que se imagina. Algumas empresas vendem imóveis sem registro de incorporação, sem alvarás e sem regularização fundiária. Isso é ilegal e coloca os consumidores em risco real de prejuízo”, alertou.
Ele também destaca que a ausência de documentação básica, como o registro do terreno em nome da incorporadora, pode configurar fraude. “A recomendação é que os compradores busquem orientação jurídica imediata. O risco de perda financeira é alto”, concluiu.
Posicionamento da Construtora WK Lar
Diante dos questionamentos levantados pela Folha Metropolitana de Guarulhos, a WK Lar Incorporadora e Construtora Ltda, enviou um comunicado oficial em que nega as acusações e reafirma seu compromisso com a legalidade, a transparência e o cumprimento de prazos.
Segundo a empresa, a titularidade do terreno está devidamente registrada no 20º Tabelião de Notas de Itaim Bibi, sob matrícula nº 43.765. A obra, de acordo com o comunicado, está regularizada pelo alvará nº A-226/2016, e há um termo de responsabilidade ambiental averbado que garante a preservação de uma área de mais de 19 mil metros quadrados.
Sobre as denúncias de venda irregular de unidades, a construtora afirma que “tais alegações não condizem com a realidade dos fatos” e que todos os direitos legais de propriedade são exercidos pela empresa conforme o Código Civil.
Contratos e aditivos
Em relação às cláusulas contratuais e aditivos considerados abusivos por compradores, a WK Lar afirma que os documentos foram elaborados em conformidade com o Código de Defesa do
Consumidor e que a empresa mantém um canal aberto para negociações e esclarecimentos com os clientes.
Penhora judicial e andamento das obras
A respeito da penhora judicial e da nomeação de um perito, a empresa reafirma sua titularidade sobre o terreno e informa que quaisquer manifestações sobre o processo serão feitas nos autos. A construtora também destaca que os compradores serão formalmente convocados em caso de prorrogação nos prazos de entrega ou para tratativas de devolução dos valores pagos.
“A empresa permanece disponível para diálogo e prestação de esclarecimentos aos compradores, reafirmando seu compromisso com a transparência, a legalidade e a entrega responsável do empreendimento”, finaliza o comunicado.
A Folha Metropolitana de Guarulhos seguirá acompanhando o caso e permanece à disposição para ouvir todas as partes envolvidas.