2019: um ano revelador em que o Brasil mostrou a sua pior cara

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Clóvis Borges

diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)

Os sinais de que um expressivo desmonte da agenda voltada ao meio ambiente estava em curso em nosso país puderam ser sentidos já em 2018, ao longo do período eleitoral. Amealharam-se milhões de votos de uma fração de brasileiros, a partir de promessas de que seria colocada em prática uma regressão truculenta nos anteparos políticos e legais que dão suporte à proteção da natureza. Esse contingente de cidadãos não apresenta necessariamente predileção por ideologias. São interesses por uma condição de permissividade para ações que geram resultados econômicos sem a suficiente condição de legalidade, frente às limitantes ambientais.  

Coincidência ou não, 2019 começa com a tragédia anunciada de Brumadinho. Mais recentemente vivemos o maior caso de contaminação por óleo da história da costa brasileira, ainda sem responsáveis identificados. A primeira situação evidencia que a gestão ambiental em nosso país é cronicamente deficitária, abrindo espaços de grande magnitude para que atividades supostamente lucrativas gerem prejuízos sociais, econômicos e ambientais de amplitude catastrófica.

O derramamento de óleo, de outra parte, foi muito didático para confirmar a incapacidade praticamente absoluta dos governos em estabelecer e executar com o mínimo de competência, planos de contingência que minimizem os prejuízos de grandes eventos geradores de impactos ambientais. Além de expor centenas de milhares de pessoas ao contato direto com um produto de grande toxicidade.

Mas os incentivos gratuitos para o avanço do desmatamento, grilagem de áreas públicas e invasão de terras indígenas merecem um destaque especial. Em meio a ataques infundados à classe científica, que prestava contas de forma rotineira e rigorosa dos números sobre o monitoramento do desmatamento da Amazônia, uma flagrante transgressão em todos os sentidos coloca em prática a estratégia de facilitação à ilegalidade, o que inclui o esfacelamento dos processos de fiscalização e controle.

Os incêndios florestais ocorridos na Amazônia e em outros biomas brasileiros não foram uma repetição de ocorrências de anos passados. Foram um fenômeno incrementado de maneira muito intensa pela postura irresponsável e conivente de nossos próprios gestores públicos. E a prisão indevida de quatro integrantes de uma instituição privada voltada justamente a lutar pela proteção da natureza completa o cenário caótico e injusto em que vivemos atualmente aqui no Brasil. 

Todo esse cenário de degradação no sentido mais amplo, também engloba ações menos alardeadas e sem o necessário espaço na mídia. De forma planejada ou não, as estruturas ministeriais que tratam de agendas de grande escala vêm deixando de receber uma atenção maior da imprensa, tamanha a quantidade de posicionamentos estapafúrdios a que temos assistido. A musculosa pasta da agricultura, por exemplo, segue seu curso de forma silenciosa, embora ainda mais intensificada, em busca de uma escalada de “avanços” que podem representar prejuízos de grande monta para a sociedade em geral.

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